segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Poesias - Francisco Miguel de Moura


CHEGA O TEMPO

Chega o tempo de dizer-se 
o que não se ouviu.
Mas as palavras são mistérios
nem mais soam
como os sinos
nos nossos ouvidos
sonolentos.
Chega um tempo de dizer-se o impossível
e o impossível já foi dito.
Chega um tempo de calar
e a gente inventa uma maneira triste
de dizer numa língua estranha
um silêncio amordaçado.

A HORA VAZIA

Silêncio sem boca nem fundo
esvazia-se no jarro partido.
a beleza da sala chora sem lágrimas
não tece preto nem branco.
Cacos não preenchem o vazio,
são novos buracos cravados
No sangue da mão do menino.
e o vazio inquebrável 
como qualquer desvio
da luz e do silêncio não se move.
nenhuma palavra.
palavras não enchem o vazio
nem a inutilidade dos desejos.

A JOIA RARA

Luz e sombra dão na mesma cor
dos olhos e do carinho.
Dizem que amor não some,
renasce do lodo, mansinho.
Mas preciso agora escutá-lo,
não abandono o que ganhei,
neste momento, sobretudo,
quando tentam riscar o passado.
Lábios e corações, ó, não se fechem, 
os olhos têm a última esperança.
Que reste sempre um fio de cabelo
no tempo de cada um, nas entranhas.
Um vintém de qualquer aventura
para os que não conseguem
nessa margem se perder.

Francisco Miguel de Moura, escritor, membro da APL, nascido em Francisco Santos. Autor dos livros: "Areias", "Pedra em sobressalto", "Universo das águas", "Bar Carnaúba" e outros. Também escreveu a biografia do seu pai, Chico Miguel: Mestre e Violeiro.


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