sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Ricardinho revolucionou o vôlei


          Um número muito pequeno de atletas se torna sinônimo de títulos. Mais restrito ainda é o grupo de profissionais que muda a maneira como um esporte é praticado. Entre os integrantes deste seleto grupo está o levantador Ricardinho, uma espécie de Steve Jobs do vôlei. Como o gênio da tecnologia, o jogador fez o vôlei de seus antecessores parecer tão ultrapassado quanto um celular com tela preto e branco.
          Desde o juvenil, Ricardinho era apontado como um prodígio, e a revolução começou quando se juntou a Giba e seus contemporâneos na seleção brasileira. Sucedendo a lenda Maurício, Ricardinho encontrou um time que não tinha a força física e altura para enfrentar seus principais adversários, como a Rússia, por exemplo. Coube ao levantador encontrar a solução que embasou a construção do grupo mais vitorioso da história do vôlei. Ele acelerou o jogo e acumulou títulos, incluindo o ouro olímpico.
           "Não importava o lugar na quadra. Eu sempre tentava fazer a bola chegar no mesmo lugar e velocidade para o atacante", lembra Ricardinho. Ele reparte os méritos e ressalta que o Brasil tinha jogadores que eram os melhores em suas posições como Giba, André Nascimento e Escadinha. Focado na vitória, ele nem percebeu que o grupo estava reescrevendo o modo como o vôlei é praticado.
          A rapidez de suas jogadas diminuía o tempo para a defesa reagir, e as maiores potências mundiais simplesmente não conseguiam acompanhar o ritmo implementado pelo levantador. Aos poucos, quem sonhava em ganhar um campeonato precisava superar o jeito brasileiro e levar o esporte para outro patamar.
          O mais curioso é que Ricardinho não planejava fazer uma revolução no vôlei, mas apenas erguer troféus. "Naquele momento não tinha ideia que estava revolucionando o esporte. Era uma busca por perfeição e entrosamento".
          Ricardinho conta que para o time jogar por música era preciso muito tempo em quadra treinando e longas horas de conversa com os companheiros. Com o líbero Serginho, o assunto era onde receber o passe para ter as melhores opções. Com os pontas o papo era onde por a bola para o ataque.
          O levantador diz que conforme as competições se sucediam os adversários buscavam antídotos para o jogo brasileiro e era preciso se reinventar. Nasciam jogadas nunca imaginadas. "Loucuras", na definição do próprio Ricardinho, termo que dá ideia do quão ousadas eram. O atleta diz que antes de experimentar as jogadas comunicava ao técnico Bernardinho.
          "Tinha essa conversa primeiro e às vezes ele falava "isso é muito", ou dava permissão. Muitas vezes a gente errava, mas repetia, e a vontade fez a equipe quase perfeita. Hoje em dia, as pessoas tentam e obviamente não fazem as coisas que o Giba fazia".
          O embrião desta forma revolucionária de atuar surgiu quando o atleta era um adolescente. Com esta idade ele já acelerava os levantamentos, mas os resultados eram bem diferentes. Muitas vezes a bola ia na antena ou na quadra adversária. Eram tempos em que Ricardinho ouvia que tinha talento e que faltava cabeça.
          Nestes dias moldava sua técnica de contato com a bola. Para isto, passava horas na frente da televisão vendo gravações de partidas de vôlei de seleções internacionais. Mesmo jovem, ele não via com olhos de fã, mas como um profissional, e estudava como agiam os levantadores das principais seleções do mundo.
          Escolheu o melhor de cada escola: não segurar a bola na mão como fazem os asiáticos; atacar de segunda bola ao melhor estilo americano; ou fingir atacar como faziam os franceses. Com o talento que trouxe de berço, conseguiu dominar estes fundamentos e neste momento nascia o atleta que entrou para o grupo mais seleto do esporte.
          Ricardinho foi tão bom que fez o mundo tentar imitá-lo. Ninguém conseguiu.

Retirado do site Uol.


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domingo, 17 de agosto de 2014

Não desistiremos, Eduardo.


              O nome de Eduardo Campos não estará nas urnas, e isso fará uma dramática diferença nas expectativas de milhões de eleitores

          A primeira notícia foi a de que os ventos de agosto derrubaram o avião que levava Eduardo Campos e outras seis pessoas, apagaram a chama de uma esperança para o futuro e espalharam perdas pelo Brasil.

          A primeira perda foi familiar. A dor da mãe, da avó, da mulher, dos filhos, do irmão e dos parentes de Eduardo. Para estes não é preciso tinta escrita, só lágrimas.

          A segunda perda é dos amigos e conhecidos. Era impossível estar junto de Eduardo e não ter uma razão para deslumbrar-se com sua simpatia e suas histórias sobre a cultura nordestina e a vida política. Ao saber da notícia de sua morte, quem o conheceu sentiu um vazio pessoal, sem contar sua liderança política.

          Ele era um líder político, e a terceira perda é a da esperança que representava para seu povo, sua pátria. Eduardo carregava a esperança de uma alternativa à polarização que domina a política brasileira nas últimas décadas.

          Mesmo reconhecendo qualidades no PT e no PSDB, ele conseguia ser diferente dos dois blocos que dominam a política nacional.

          Era a alternativa viável à mesmice da política atual, em que a discordância ideológica foi substituída pela raiva mútua que impede a capacidade de dialogar. Era capaz de conversar com todos os lados, sem perder a firmeza de suas posições. Como dissera o poeta Ferreira Gullar sobre Gregório Bezerra, “era feito de ferro e de flor”.

          A quarta perda é a da chance de mudança nos rumos do país para atender ao desejo coletivo por uma alternativa que supere o esgotamento da democracia sem ética; o sistema de transferência de renda que não transforma o modelo excludente; uma estabilidade monetária claudicante; um crescimento econômico interrompido.

          Sem propor rupturas, Eduardo defendia uma inflexão no rumo do Brasil para consolidar as bases da estabilidade monetária; utilizar a educação integral como porta de saída para os beneficiados pelo Bolsa Família; e criar os instrumentos necessários para retomar o crescimento de uma economia moderna baseada no conhecimento científico e tecnológico. Ele era firme e radical em seu compromisso com uma reforma política, capaz de robustecer nossa degradada democracia.

          A quinta perda é a do exemplo, da coerência sem intransigência e da coragem de servir a um projeto político e dele se afastar quando percebeu que o modelo perdeu seu vigor transformador, abandonou seus princípios e deixou de atender aos anseios da nação que pede mudanças.

          A sexta perda é do futuro. Já sentimos perdas com as mortes de vários líderes: Getúlio Vargas, Leonel Brizola, Tancredo Neves, Miguel Arraes, Ulysses Guimarães –mas eram líderes que já tinham dado a contribuição que o país esperava deles. Aos 49 anos, Eduardo estava começando a saltar do que fez por Pernambuco para fazer para o Brasil inteiro. Adiante estava o futuro, dele e do país.

          A sétima perda é eleitoral. O nome de Eduardo Campos não estará nas urnas, e isso fará uma dramática diferença nas expectativas de milhões de eleitores que viam nele o candidato da novidade, da reforma política, da afirmação da República sobre os partidos, do tratamento do patrimônio público compromissado com o povo, o Estado e a nação; da construção de um modelo econômico sem exclusão; que esperavam dele utilizar todos os recursos federais necessários para fazer a revolução na educação que o país adia há séculos.

          Fica, porém, o legado e a chama que um vento de agosto não é capaz de apagar. Até porque, na véspera da sua morte, as últimas palavras públicas de Eduardo foram: “Não desistam do Brasil”.

CRISTOVAM BUARQUE, 70, é senador pelo PDT-DF e professor da Universidade de Brasília.

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terça-feira, 5 de agosto de 2014

Colírio

                                                           RAFAELA SOUSA.

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Retratos do autoritarismo

          O que tem a ver o caso da analista do banco Santander demitida na semana passada por exercer direito o seu ofício, com o caso do correspondente do The New York Times ameaçado de expulsão do Brasil em maio de 2004?

          Os dois aconteceram no começo e no que poderá ser o fim do período de 12 anos de governos do PT. Foram protagonizados por Lula. E são casos exemplares da prepotência dele e de sua turma.

          De volta ao futuro... Na época, pensei: o cara pirou. Só pode ser. Ou está de porre. Compreensível que tenha se sentido ofendido pela reportagem do The New York Times sobre seu gosto por bebidas alcoólicas.

          Mas daí a determinar a expulsão do país de Larry Rother, correspondente do jornal mais importante do mundo? Sinto muito, era um flagrante exagero. Uma escandalosa arbitrariedade.

          Foi isso o que Lula ouviu dos poucos assessores com coragem para confrontá-lo.

          Um deles, durante reunião no gabinete presidencial do terceiro andar do Palácio do Planalto, sacara de um exemplar da Constituição e apontara o artigo que garantia ao jornalista o direito de permanecer no Brasil.

          Então Lula cometeu a frase que postei em meu blog às 15h16 do dia 12 de maio de 2004, poucas horas depois de ela ter sido pronunciada.

          Ele disse: “Fod.... a Constituição”.

          Foi mais ou menos isso que você leu. Um ministro que ouvira a frase reproduziu-a para um assessor. E o assessor, que trabalhara comigo durante vários anos, me telefonou contando.

          Esperei durante o resto do dia o desmentido que não veio. Ainda espero. Prevaleceu a opinião sensata de Márcio Thomaz Bastos, ministro da Justiça, que desaconselhou a expulsão por ilegal.

          Impedido de consumar sua vontade, Lula tentou tirar proveito político do episódio se comportando como vítima. A presidência da República fora ultrajada por um irresponsável jornalista estrangeiro.

          Mas, generoso e obediente à lei, o presidente desculpara o malfeitor depois que ele divulgou uma nota dizendo que não tivera a intenção de ofendê-lo. Quanto ao jornal... Recusou-se a desmentir o que publicara.

          A coragem que sobrou à direção do jornal faltou à direção do Santander.

          Em discurso para sindicalistas em São Paulo, Lula cobrou do banco a demissão imediata da analista, autora do boletim enviado para clientes de alta renda relacionando a queda de Dilma nas pesquisas de intenção de voto com a eventual melhoria do câmbio e valorização de ações de grandes companhias.

          E a cabeça da analista foi oferecida de presente a Lula.

          Um ato de subserviência. Que nem de longe parece ter envergonhado Emílio Botín, presidente mundial do Santander, amigo de Lula e admirador declarado de Dilma.

          “O que aconteceu é proibido, pois não se pode fazer manifestações que interfiram na decisão de voto”, cobrou Rui Falcão, presidente do PT. Botín aquiesceu: “O boletim não representa a posição do banco”.

          E se o boletim tivesse afirmado o contrário?

          Se tivesse dito que a Bolsa de Valores subiria com o crescimento de Dilma nas pesquisas? Lula pediria a demissão do seu autor? Falcão recriminaria o banco por favorecer o voto em Dilma?

          Lula e o PT aproveitaram a ocasião para fazer Dilma de coitadinha! De alvo preferencial dos poderosos. Perseguida como o fora durante a Copa do Mundo por uma elite preconceituosa que não respeita nem mesmo uma mulher. Imagine!

          Esse tipo de jogada falsamente esperta e que aposta na ignorância coletiva, se repetirá à exaustão até que o país conheça em outubro seu futuro presidente.

          Fiquem atentos para desmoralizá-la logo de saída.


Por Ricardo Noblat. Jornalista e tem o blog político mais acessado do Brasil.

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domingo, 3 de agosto de 2014

UMA VERDADE SÓ

          A campanha eleitoral para a Presidência da República e os governos estaduais está prometendo colocar o Brasil diante de uma pregação totalitária para ninguém botar defeito.

          Tudo isso? É sempre confortável, claro, imaginar que essas coisas não acontecem mais hoje em dia, não num país que caminha para a sétima eleição presidencial seguida com voto livre, secreto e universal, sob a proteção de todas as leis e defesas de um Estado de direito. Virar a mesa, a esta altura do jogo, com certeza não é fácil.

          Mas, como se vê, não é impossível criar um clima de hostilidade disfarçada, ou nem tão disfarçada assim, às regras segundo as quais candidatos de oposição têm o direito de disputar a Presidência, e o vencedor deve ser aquele que teve a maioria absoluta dos votos.

          É o que já se pode ver, neste momento, pelos atos praticados na campanha do governo e seu partido para reeleger a presidente Dilma Rousseff – ou, se não é isso, estão fazendo o possível para parecer que é. Sua atitude diante da eleição de outubro, pelo que dizem e fazem em público, é sustentar que os eleitores brasileiros só podem tomar uma decisão nas urnas: reeleger a presidente Dilma. Qualquer outro resultado, segundo o que têm pregado até agora, seria “um golpe de Estado da direita”.

          Não é uma suposição ou um exagero; são fatos que se repetem na frente de todo mundo, com frequência cada vez maior.

          A mensagem que o governo está enviando ao público em geral, quando se raspa o verniz do palavrório, é a seguinte: a alternância de poder não pode ser aceita pelo povo brasileiro, pois é um mal em si.

          Servirá apenas para colocar no governo a elite branca, principalmente a “do Sul”, que vai “se aproveitar” de métodos falsamente democráticos, como são essas “eleições formais”, para tirar do poder as forças comandadas pelo PT – as únicas, sempre na visão oficial, que têm o direito político e moral de governar o Brasil, pois quem discorda delas quer agir contra a pátria, o interesse nacional e os “benefícios sociais” que o povo ganhou nos últimos doze anos com Dilma e seu antecessor, o ex-presidente Lula.

          Em português claro: é indispensável, para salvar a “verdadeira democracia”, agir contra a democracia defeituosa que “está aí”. A regra eleitoral, em suma, só vale se a presidente for reeleita. Se ela perder, é “golpe”. Fim de conversa.

          A ferramenta mais utilizada no momento para levar adiante esse evangelho é alegar que o governo está sitiado por uma poderosíssima ofensiva conservadora, que lançaria mão de armas e recursos desproporcionais, desleais e ilícitos para “derrubar” a presente administração do PT e sua “base aliada”.

          Como assim? Disputar uma eleição, dentro das regras estabelecidas em lei, seria “derrubar” alguém? Também não dá para entender como pode se colocar no papel de vítima um governo cuja candidata tem à sua disposição todo um arsenal termonuclear de vantagens materiais para ganhar a eleição.

          Dilma conta com um tempo de propaganda obrigatória na televisão que é o dobro do que têm, somadas, as candidaturas de seus dois concorrentes mais próximos. Esse patrimônio, como é público, foi comprado dos partidos de aluguel que andam por aí, tentando escapar da polícia e do Código Penal, em troca de cargos rentáveis no governo, desses que decidem licitações de obras e outras maravilhas – algo que só pode ser dado por quem está no poder.

          A campanha da presidente estimou que vai gastar 300 milhões de reais até outubro – cerca de 50% a mais do que o valor de 2010, e um total maior que o de qualquer adversário. O governo se vale, também, do Tesouro Nacional; só nos meses de maio e junho gastou cerca de 800 milhões de reais em propaganda pró-Dilma. É dinheiro público direto na veia – de novo, coisa que só pode fazer quem manda no caixa.

          O governo tem a seu favor 70% dos votos no Congresso, uma força decisiva para protegê-lo de acusações de corrupção; com isso, 300 pedidos de investigação sobre irregularidades estão bloqueados no momento. As empreiteiras de obras jogam pesado a favor do governo – entre outros ajutórios, pressionam parlamentares que lhes devem favores a segurar a apuração dos recentes escândalos em torno da Petrobras. Mais que tudo, vende-se abertamente mercadoria falsa.

          Qualquer crítica em relação ao governo é tida como “preconceito”. Quedas nas pesquisas são atribuídas ao “ódio” de quem discorda. A presidente chama de “urubus” os que apontam algum problema em seu governo.

          O que Lula, Dilma e o PT estão dizendo é algo bem claro: “Só existe uma verdade aqui – a nossa”.


Por J.R. Guzzo
 
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