sexta-feira, 26 de julho de 2013

Fuga para adiante


          A reunião deste fim de semana do Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores (PT) trouxe um fato inédito. A rotina desses encontros é culpar a oposição por todas as mazelas do País, como se os petistas não mandassem no seu próprio governo. Mas desta vez foi diferente: ao analisar o quadro político e as dificuldades da administração DILMA Rousseff – mais evidentes após as grandes manifestações de junho e a queda livre nas pesquisas o PT pôs a culpa não na oposição, mas nos aliados! Assim, os males do Brasil seriam devidos ao fato de os petistas não conseguirem governar sozinhos, sendo obrigados a composições com os “conservadores”, santo eufemismo. Tais alianças estariam a impedir os avanços que o governo tanto deseja realizar. Será?

          O PT já domina completamente o Executivo em Brasília: Presidência, Casa Civil, Fazenda. Planejamento, Saúde, Educação, Justiça, todos os principais órgãos e ministérios são controlados pelo partido. Além das pastas responsáveis pelos temas que fizeram as ruas explodir de insatisfação, estão nas mãos dele todas as estatais relevantes.

          Proveitoso seria, hoje, que fizesse autocrítica e perguntasse: “Onde foi que nós erramos?”. Mas essa atitude não combina com o DNA autoritário de quem se julga portador de uma verdade histórica tão inquestionável quanto o teorema de Pitágoras. Um exemplo de autocrítica possível seria o da forma perversa das alianças: baseadas não em programas, mas no rateio dos benefícios do poder.

          Assim, somos obrigados a assistir ao filme da fuga para adiante – “fuite en avant”, para lembrar a expressão de Ignacy Sachs. Ou seja, após três mandatos o PT pede mais para ele mesmo, demanda o poder absoluto para fazer o que não conseguiu realizar em mais de uma década de hegemonia.

          Eis a origem do tal plebiscito sobre reforma política. O objetivo é um só: como não consegue passar de 20% nos votos para o Legislativo, o PT quer mudar as regras para que a minoria nas urnas se transforme em maioria no Congresso Nacional, minimizando a necessidade de se aliar a outros partidos. Por isso defende a lista fechada para a eleição de deputados e o financiamento exclusivamente público das campanhas eleitorais.

          O PT tem cerca de 20% da preferência popular. Como a maioria do eleitorado não se identifica com nenhum partido, se o voto for na lista partidária, e não em candidatos, acredita poder transformar os 20% nas urnas em pelo menos 40% do Congresso.

          Esse propósito seria bastante fortalecido pelo financiamento público das campanhas, que beneficiaria o PT de duas maneiras. Sendo o maior partido saído das últimas eleições, disporia automaticamente de mais recursos para disputar votos. Além disso, como o PT domina a poderosa máquina federal e numerosas entidades sindicais e ONGs especiais (de fato, organizações neogovemamentais), que têm expertise em fazer campanha eleitoral com recursos públicos, a proibição do financiamento privado legal o favoreceria.

          Uma vez que o Congresso, com todos os seus imensos defeitos, não é composto de suicidas, o PT enfrenta forte resistência a esses projetos. O caminho normal, democrático, seria, então, fazer das suas teses bandeiras eleitorais e buscar a maioria no Congresso para elas. Mas como as relações entre o PT e a democracia são nebulosas, prefere tentar emparedar os adversários e os aliados, usando para isso o tal plebiscito.

          O Tribunal Superior Eleitoral já esclareceu que precisa de 70 dias para organizar um plebiscito nacional. Ou seja, não há tempo hábil para combinar quatro coisas: 1) votar nas duas Casas do Congresso a lei que convoca o plebiscito, 2) realizar o plebiscito com tempo para horário “gratuito” de TV e rádio, 3) promover o necessário trabalho congressual para regulamentar as decisões e 4) que elas valham já em 2014, respeitando o princípio constitucional da anualidade.

          A presidente DILMA Rousseff continua a insistir no tal plebiscito para valer já nas eleições de 2014 e até persegue o deputado Cândido Vaccarezza, petista histórico, que reconheceu publicamente a falta de tempo hábil. Ela deve saber que é inviável, porém insiste. Por quê? Para alimentar um impasse e depois culpar o Congresso por “não ter ouvido as ruas”. Enquanto isso, passaria à população a ideia de que está empenhada e trabalhando por. algo coerente, desviando o foco dos problemas verdadeiros: economia sob estagflação e dominada por expectativas ruins, consumo e emprego desacelerando, serviços públicos aquém das expectativas.

          Escrevi dias atrás que o Brasil precisa de governo. Não obrigatoriamente um bom governo; mas ao menos algum governo. E o que mais nos faz falta hoje. Talvez ainda houvesse tempo de a presidente encontrar um rumo, corrigir rotas tresloucadas que a fazem se chocar, dia após dia, com a realidade dos fatos. Infelizmente, a inclinação parece ser dobrar a dose do remédio que não dá certo. O exemplo mais emblemático é a tentativa de satanizar os médicos brasileiros, para dar a impressão de que se está fazendo algo pelo presente e o futuro da saúde.

          Já se esgotou, por sorte, a velha fórmula de produzir factoides que depois serão embalados publicitariamente – e veiculados em caríssimas campanhas para induzir o povo a acreditar que o governo funciona. Isso é o que foi feito, por exemplo, com o PAC, as campanhas anticrack, os buracos de estradas, o Pronasci (da segurança), etc. Esse expediente já era. O Brasil quer governo que tenha rumo, fale menos, se antecipe aos acontecimentos, enfrente os problemas, planeje as ações, dê exemplo de boa conduta aos cidadãos e consiga entregar-lhes os benefícios mínimos que reclamam. Tão simples quanto isso.

          Já passou da hora de o PT e o governo abrirem o olho. O Brasil é uma democracia sólida, o povo amadureceu e as eleições vêm aí. Certos desvios e atalhos, felizmente, repousam nos livros de História para, se Deus quiser, deles não saírem nunca mais.

Por José Serra. Publicado na edição desta quinta-feira do jornal O Estado de São Paulo. 

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quinta-feira, 25 de julho de 2013

Incenso e mirra

Por DORA KRAMER - O Estado de S.Paulo(24/07/2013)

          Quando esteve a primeira vez no Brasil, em 1980, João Paulo II falou das injustiças sociais, mas fez gesto de significado político importante para a época, último governo da era militar: esteve com trabalhadores no estádio do Morumbi e depois recebeu um grupo de sindicalistas, entre eles Luiz Inácio da Silva - o metalúrgico que liderava o renascimento do movimento sindical - e a viúva de Santo Dias, morto durante a greve do ano anterior no ABC.
          Não politizou na fala e sim no ato de apoio aos que confrontavam a ditadura. Naquele contexto foi entendido como um mensageiro do respeito aos valores democráticos.
          Agora vem o papa Francisco com a atitude correta no momento certo, em seu exemplo de despojamento, pregando na prática o resgate de princípios de conduta a serem adotados na aproximação entre líderes e liderados.
          A autoridade, parece dizer ele em cada gesto, prescinde de pompa para atrair apreço e respeito. Ao contrário, quanto mais próximo estiver o representante - no caso dele, do Vaticano e da Igreja Católica, mais apreço receberá do representado.
          O contraste das imagens de Francisco carregando sua maleta no embarque em Roma, fechando a porta do carro que o levou da Base Aérea do Galeão à Catedral Metropolitana, optando por acomodações sem luxo na residência da Arquidiocese do Rio, evidenciam o mau gosto e o caráter ofensivo da regalia e ostentação tão caras (estrito e lato sensos) a nossas excelências.
          A diferença entre a estreiteza e a amplitude esteve marcada nos discursos do papa e da presidente da República no Palácio Guanabara. Francisco, o pastor, foi modesto: "Aprendi que para ter acesso ao povo brasileiro é preciso ingressar pelo portal de seu imenso coração. Por isso, permitam-me que eu possa bater delicadamente a essa porta. Peço licença para entrar e transcorrer essa semana com vocês. Não tenho ouro nem prata, mas trago o que de mais precioso me foi dado: Jesus Cristo". Falou de amor e fraternidade.
          Dilma, a governante, foi soberba e inoportuna ao tentar absorver para si e seus aliados políticos (não era hora nem lugar de exaltar o "trabalho" de prefeito e governador) a boa atmosfera da visita papal, com um pronunciamento de exaltação aos feitos do governo federal aos quais buscou também associar ações da Igreja. Defendeu de novo a tese de que os protestos decorrem dos "avanços dos últimos dez anos". Falou de pretensão e egoísmo ao desconhecer esforços anteriores.
          Uma falha cuja responsabilidade não está esclarecida deixou o papa por longos e aflitivos minutos cercado pela multidão no trajeto do aeroporto à catedral, mas produziu um episódio simbólico de que a convivência com o povo não necessariamente é perigosa.
          Depende da qualidade do lastro que sustenta a relação. Francisco nada teme, não obstante seja dever do Estado brasileiro garantir-lhe a segurança sabendo compatibilizar o estilo dele ao manejo das circunstâncias de risco.
        O destemor da proximidade já não se pode dizer que seja característica de nossas autoridades e figuras proeminentes da política, que não podem hoje dar um passo sem a proteção do protocolo ou do privilégio sem se arriscar a levar o troco (pelo descaso) na forma de desaforo.

          Retrovisor. O PT brinca com fogo em suas escaramuças com Dilma Rousseff. Descontadas as diferenças entre personagens, em 2002 o PSDB interpretou que a perda de capital político do então presidente Fernando Henrique Cardoso não aconselhava a uma defesa contundente de seu governo na campanha eleitoral. O partido baixou a guarda, abriu espaço para o discurso da "herança maldita" e agora, que tenta resgatar o legado, sofre de déficit de credibilidade para dar o dito pelo não dito.

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quarta-feira, 24 de julho de 2013

O choro da sanfona


      O mundo da música está bem mais triste nessa noite de 23 de julho de 2013. Acabou de falecer o grande músico DOMINGUINHOS, legítimo herdeiro musical de Luiz Gonzaga e um dos grandes músicos do mundo, sem sombra de dúvidas. Após uma luta de 6 anos contra um câncer de pulmão, que se agravou nos últimos meses, o músico hoje resolveu que era a hora de se juntar à Luiz Gonzaga para iniciar um grande show de forró dos bons lá em cima.

     José Domingos de Morais nasceu em Garanhuns, no agreste de Pernambuco. Oriundo de família humilde, seu pai, mestre Chicão, era um conhecido sanfoneiro e afinador de sanfonas. Ainda criança, Dominguinhos tocava triângulo com seus irmãos no trio “Os três pinguins”. Quando ele tinha oito anos de idade, foi “descoberto” por Gonzagão ao participar de um show em Garanhuns. Foi Luiz Gonzaga quem lhe deu o nome artístico de Dominguinhos, pois achava que Neném não pegava bem. Aos 13 anos, morando no Rio, ganhou a primeira sanfona do Rei do Baião, que três anos mais tarde o consagrou como herdeiro artístico. “Em cinco minutos, ele me deu uma sanfona novinha, sem eu pedir nada”, declarou o próprio Dominguinhos numa entrevista ao portal G1, em 2012. Naquele período, Dominguinhos saiu em turnê com o mestre para cumprir a função de segundo sanfoneiro e, eventualmente, de motorista.

     Nos anos 50 e 60 ganhou a vida tocando boleros e sambas-canções em cassinos, gafieiras, dancing, churrascarias, boates e na Rádio Nacional, onde ingressou em 1964, ano em que gravou seu primeiro LP. Tornou-se famoso no meio musical e passou a ser convidado para gravações e turnês com Gilberto Gil, Caetano Veloso, Gal Costa e Maria Bethânia. Como compositor também se destacou. Ao lado de Gil assina algumas composições, como "Lamento Sertanejo" e "Abri a Porta". Seus maiores sucessos foram "Tantas Palavras", com Chico Buarque, "De Volta para o Aconchego" (com Nando Cordel), gravada por Elba Ramalho e "Isso Aqui Ta Bom Demais". Gravou mais de 30 discos e compôs trilhas para cinema, firmando-se como compositor e sanfoneiro de prestígio. Ganhou quatro prêmios Sharp, um Grammy Latino, no ano de 2002, pelo CD CHEGANDO DE MANSINHO e um prêmio TIM, em 2007, de melhor cantor regional. Esse mesmo prêmio o homenageou em 2008 pelo conjunto de sua obra.
        
    O cantor e compositor Dominguinhos morreu às 18h desta terça-feira (23) no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. O sanfoneiro lutava contra um câncer no pulmão e fazia sessões de quimioterapia havia seis anos. Segundo o boletim divulgado pelo hospital, a causa da morte foram "complicações infecciosas e cardíacas".O músico de 72 anos havia deixado a UTI após melhora da infecção respiratória e arritmia cardíaca no dia 13 e retornado à UTI no dia 15.Dominguinhos estava internado desde o dia 17 de dezembro. No dia 22 daquele mês, precisou passar por uma cirurgia para a colocação de um marca-passo cardíaco temporário por conta da arritmia. Neste período, o cantor foi submetido a uma traqueostomia e hemodiálise. Dominguinhos ficou sem sedação e, mesmo assim, não se comunicava com a família e médicos. No dia 8 de janeiro, ele sofreu uma parada cardíaca no hospital em que estava internado em Recife (PE). A pedidos dos familiares, no dia 13 de janeiro, Dominguinhos foi transferido para o Hospital Sírio-Libanês em São Paulo. 

    Humildade. Depoimentos de quase todos os artistas famosos que conviveram com Dominguinhos e todos destacaram essa humildade contagiante do sanfoneiro, que se projetou na vida pelo seu talento, ganhando fãs com a beleza das suas músicas e o talento de fazer a sanfona chorar.
    “Ele era um exemplo de humildade sem tamanho. Tinha o dom de tocar bem e ter o pé no chão”, disse Oswaldinho do Acordeon. Nana Caymmi disse que Dominguinhos era uma pessoa iluminada.
    “Se você olha no rosto dele – disse Nana – enxerga aquele nordestino preocupado com a seca, preocupado com as coisas daquele povo tão sofrido do País. Cantar com Dominguinhos foi uma das coisas mais importantes da minha vida”.
    O mestre Dominguinhos iluminou muitas vidas através da sua música, do seu jeito especial de ser. Até o sorriso dele era diferente, bonito. Sem a sanfona de Dominguinhos, o Nordeste fica mais triste, mais pobre, órfão.
    Djavan disse que Dominguinhos era um músico extraordinário e seu talento plural permanecerá para sempre como uma das maiores referências da nossa música. Para Danilo Caymmi, Dominguinhos era completo: compositor de grande quilate, uma riqueza melódica difícil de encontrar hoje. Ele como melodista transcendia o som, a música nordestina.
    Dominguinhos não tolerava avião e percorreu o País inteiro de carro. Tenho impressão que não era nem por medo de avião, porque nas suas andanças, conhecendo as pessoas e os lugares, na verdade ele encontrava inspiração para tantas músicas bonitas que compôs.
    Como disse a cantora Sandra Sá, o mundo está sem palavras com a morte de Dominguinhos.

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sexta-feira, 12 de julho de 2013

Colírio



Naiara Santos.

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Profa. Geralda - Homenagem


   
         Em homenagem a Professora Geralda, falecida no último dia dez, em decorrência de um trágico acidente automobilístico. Pessoa calma, serena, corajosa, mãe de 05 filhos - Licínio Júnior, Carlos César, Ailton José(Didi), Hélio Newton (Zozô) e Adriana - gozava de bom conceito não apenas em Francisco Santos, como em Picos, onde laborou no magistério durante muitos anos. Quem a conheceu, sabe bem as suas qualidades.
         Irmã do professor Mariano da Silva Neto e do poeta e escritor João Bosco da Silva, representou muito para a educação de Francisco Santos, de Picos e conseqüentemente, de todas as regiões próximas a Picos.
         Publicamos abaixo uma crônica escrita pelo poeta João Bosco da Silva.



     M Ã E   B A I X A


      QUANDO MINHA MÃE faleceu aos 06 de outubro de 1945, eu estava com 10 meses de vida. Minha irmã Geralda, então com 9 anos, assumiu a pesada tarefa de tomar conta de mim. De tão pequena e frágil, tão logo aprendi falar, passei a chamá-la “Mãe Baixa”.
      É uma grande figura em minha vida.
      Afirmam os psicólogos que uma das maiores perdas, quiçá a maior, seja a de um ente querido, e o luto, o estado depressivo de que mais a pessoa demora sair. Ora, qual ente mais querido está mais próximo de nós que a mãe, principalmente quando se é criancinha de peito? Logo, a perda de minha mãe, quando eu tinha apenas dez meses de vida, foi um trauma muito grande para mim. Sua falta, portanto, não poderia deixar de ser sentida. Nunca mais sua presença, seu cheiro, seu leite. Seu carinho, nunca mais. Nunca mais a figurinha gorducha andando pela casa, dando ordens, ralhando, falando alto. Nunca mais a figura de preto, luto fechado por Maria, morta em janeiro daquele mesmo ano, uma perda também muito significativa para a família inteira. Aquela figura nunca mais velaria por mim, pela família - por todos nós.
      - A mamãe foi embora... - dizia Mãe Baixa, tentando me consolar.
      Eu, então, suspendia o choro para escutá-la. Como nada acontecesse além do eco triste e espichado “...foiii embooora...”,  logo abria o berreiro sem fim.
      Contam-me que certa tarde trouxeram-me para a sala em que estavam algumas pessoas em visita de pêsames. Entre elas, uma senhora vestida de negro. Tão logo a vi sentada ali, fiquei todo animado. Num gesto instintivo, larguei-me do colo de Mãe Baixa e ao ensaio dos primeiros passos, caindo aqui, caindo ali, corri para ela e estendi os braços.
      Não obstante a acolhida carinhosa, senti algo estranho, diferente. Que teria mudado? O abraço, o olhar, o cheiro, o jeito de tomar-me ao colo? Instantânea e inconscientemente, a repudiei e me pus a chorar.
      Mãe Baixa não mentira. Minha mãe fora mesmo embora. Aquela mulher não era ela. Sarica, nunca mais. Tratava-se de Dasdores, nossa prima, de luto por um parente recentemente falecido. A roupa preta fora a possível causa de minha momentânea confusão.
      Depois desse episódio, cuja lembrança não passa de oitiva, comecei a aceitar a situação como definitiva. E Mãe Baixa foi aos poucos assumindo o lugar de mamãe, no cuidado, no carinho e no amor, sentimento que nos une até hoje feito mãe e filho.
      Mãe Baixa passou a ser tudo para mim.
      Mãe Baixa me dava mingau de goma no dedo, Mãe Baixa me botava pra dormir, Mãe Baixa me dava banho. Mãe Baixa me dava amor. E poucas vezes - ou quase nunca - umas palmadas...
      Fui crescendo e dei de ficar chorão, exigente, mandão, cheio de vontades. Era Mãe Baixa pr’aqui, Mãe Baixa pr’ali. Mãe Baixa corria, Mãe Baixa fazia, Mãe Baixa me satisfazia em tudo.
      - Quelo aga.
      Mãe Baixa trazia.
      Mas aí, por qualquer veneta, já não queria mais água. Ficava zangado, enfezado, de calundu. E derramava a água ou com ela dava um banho na Mãe Baixa. Daí a pouco:
      - Quelo aga.
      Lá se ia Mãe Baixa - de novo - atender.
      Vidinha atormentada ia levando Mãe Baixa, sob os meus caprichos, os caprichos de um pequeno rei despótico.
      Em nossa casa não havia ferro de engomar. A roupa era lavada com sabão de pedra e usada como vinha do secador, isto é, da cerca de faxina em que era estendida. Mas, para mim, ela sempre dava um jeito de arranjar ferro emprestado. Na casa de Mané Loura, de Jorge, de Quincó de Chico, onde quer que houvesse um, ela ia buscar.
      Certa feita, ela engomou uma roupa com todo esmero para irmos à lapinha, na igreja da vila. Não sei bem o porquê, depois de todo pronto - banhado, penteado, vestido – sobreveio-me um daqueles calundus. Ela por ali, me adulando, me paparicando, doida para que eu não desistisse de ir à festividade. A certa altura, sem mais aquela, peguei o resto do mingau do prato e passei em meu próprio rosto e nos cabelos. Em seguida, fui lá fora e completei a obra, lambuzando-me com areia do terreiro. Transformei-me numa coisa sem rosto, uma máscara esquisita, como hoje se vê nas palhaçadas com tortas e bolos. Ela ensaiou sorrir daquela marmota. Pra quê? Fiquei uma fera!
      Como agredi-la? Feri-la? Puni-la?
      Não encontrando forma mais adequada de fazê-lo, comecei a me despir, ao tempo em que ia pisoteando a roupa, deixando-a toda enxovalhada. Em seguida, peguei seu vestido, todo engomadinho, e fiz com ele a mesma coisa.
      Nesse ponto, Mãe Baixa só fazia chorar. Mas eu ainda não estava satisfeito, queria mais. Por isso a fiz ficar de quatro, peguei de uma pedra e - pimba! - em seu espinhaço, várias vezes.
      Não houve lapinha naquele domingo. Mas houve a primeira - e bem aplicada! - surra. Depois chorava eu, chorava ela - arrependidos.
      Por outro lado, havia as birras de Mãe Baixa. Nessas ocasiões, eu podia choramingar, gritar, espernear, chantagear, ameaçar de contar tudo ao nosso pai, que ela não ligava a mínima. Como último recurso, eu passava, então, a xingá-la de todos os nomes feios que sabia e a rogar-lhe todas as pragas e castigos do mundo:
      - Mãe Baixa, você num plesta, vá morrê, vá plo cimitelo...
      Algum tempo depois, toda carinhosa, desfazendo-se em lágrimas, vinha fazer tudo do jeito que eu queria.
      De outra feita, no Viroveu (eu devia estar com 7 ou 8 anos), desatendido em uma pretensão qualquer, ameacei:
      - Vou me matar.
      E tomei de uma corda e saí para o mato. Duzentos metros à frente, trepei-me em um caneleiro bem frondoso e, sabendo que ela viria atrás, fiquei à espera. Não tardou de ouvir sua voz chamando-me:
      - Vem, Bosquim... vem, que a sua Mãe Baixa faz tudo que você quiser...
      Eu, lá em cima, bem caladinho, esperando. Quando ela ficou quase ao pé da árvore, fiz pontaria. De bexiga cheia, pois havida comido há pouco uma banda de melancia, despejei-lhe uma mijada que a ensopou da cabeça aos pés.
      Mãe Baixa, aí, enfureceu-se. Mais ligeira que um gato, escalou os galhos do caneleiro e puxou-me pela perna, derrubando-me ao chão. Tomou-me a corda com que pretendia me enforcar, e pespegou-me várias cordoadas, sem pena e sem dó.
     
      *  *  *
      Pois em março de 1954, de maneira quase inesperada, arrebataram-me a minha Mãe Baixa. Ô dia longo e triste! Na hora do adeus, o "entalo" no peito, a voz não conseguindo sair, a lágrima teimando em me queimar a pálpebra. Eu queria gritar de desespero, mas, como no sonho, em que o grito fica apenas na intenção, essa minha vontade de gritar não se transformava em som audível. Após o fato consumado, só desespero e solidão, e o sentimento do nunca mais...
      Depois de sua partida, o retorno para o Viroveu, com meu pai. A casa agora era só tristeza e silencio. Não consigo tocar na comida. Anoitece, triste e rapidamente. Também em mim, faz-se noite rapidamente. Falta-me alguma espécie de luz. O Velho acende uma grande tora de lenha de amarelo para esquentar a noite fria. Esquenta-me a pele, mas me enregela o coração. Não consigo dormir. E sofro minha primeira noite de insônia.
      O fogo aceso crepita por algumas horas, depois vira brasa. Brasa vermelha, para a qual não me canso de olhar. Fecho os olhos, comprimo as pálpebras com as mãos, cubro o rosto com o lençol. Besteira: não consigo dormir. Essa brasa vermelha vai aos poucos se transformando no vestido vermelho com que ela partira. Depois, ao longo dos minutos, das longas horas, personaliza-se mais ainda essa brasa, dando-me a impressão de que ali está ela de corpo inteiro: seu rosto, seus cabelos negros, seus braços, suas pernas, seu sorriso e... suas lágrimas de despedida. Parece que a revejo, inteirinha e em cada detalhe. Nos raros cochilos, o sonho, a visão, toda ela graça e carinho. E agora, e desde sempre, a impressão auditiva da música de Cascatinha e Inhana, que ela entoava tão doce e tristemente, como se cantasse um amor desfeito, morto:
      Quando ela partiu,
      Só rancho vazio
      Ficou para mim;
      Para o céu voou,
      Comigo deixou
      Solidão sem fim...
      Os últimos três versos eu substituía, e ficava assim: "Pra Jaicós voou / Comigo deixou / Solidão sem fim..." Solidão doída, sem esperança. E continuava a melodia, docemente, tristemente, em meus ouvidos:
      Tudo se acabou,
      Nada mais restou
      Neste meu viver;
      O tempo sem dó
      Apagou do pó
      O rastinho seu... 
      Esperando em vão,
      O meu coração
      Quanto já sofreu...
      Fora ontem, mas, para mim, já fazia um século...
      Pela manhã, eu estava febril, doente. Doente de saudade e de solidão. Mãe Baixa não era mais minha. Agora pertencia a Jaicós.
      Quando voltou, quatro meses depois, feito estudante, já era Geralda.
      Onde ficara a minha Mãe Baixa?

      *************************************

      Naquele tempo eu não sabia. Agora falecida, no dia 10 deste mês, eu sei, com toda certeza: ficará em meu coração – indelevelmente!
OBS: Dasdores (esposa de Néu), aquela para cujos braços eu correra quando tinha apenas poucos meses de vida, faleceu recentemente. Também a ela, a minha homenagem.
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Uma crise em busca de um governo



"Estou convencido de que nada é mais necessário para os homens que vivem em comunidade do que ser governados: autogovernados se possível, bem governados se tiverem sorte, mas, em qualquer caso, governados". W. Lippmann
                  
          Ninguém está exigindo da presidente da República ou mesmo do PT que façam um grande governo. Só se está pedindo que façam algum governo. Quem está no poder tem o direito de errar. E o eleitor julga. Mas não tem o direito de não governar.
          Quando, em 2010, fui candidato à Presidência, sabia bem que por trás da euforia de consumo do fim do governo Lula estava o espectro de grandes dificuldades para seu sucessor, fosse quem fosse. A inusitada bonança externa que cercava a economia brasileira não se prolongaria indefinidamente. Não daria para conciliar por muito mais tempo o crescimento rápido do PIB, puxado pelo consumo, com desindustrialização e investimentos baixos. Tampouco seria possível, para uma economia de crescimento lento, manter a combinação do aumento acelerado das importações com o desempenho modesto das exportações sem que voltasse o fantasma do desequilíbrio externo.
          Mesmo assim, essa estratégia foi levada adiante, sob aplausos quase unânimes. Não se enganem: um erro da magnitude do que foi cometido no Brasil não se faz sem o apoio de muita gente. Alguns colunistas, naquele ano, chegaram a lançar a tese do "risco Serra", segundo o qual eu não poderia vencer a eleição porque representaria uma ameaça - imaginem! - à estabilidade da economia...
          Ora, eu procurava então advertir para o que aconteceria caso não houvesse uma mudança de rumo na gestão governamental. Não era uma questão de opinião, mas de fato econômico e de lógica. Como poderia crescer de maneira sustentada um país que tinha as menores taxas de investimentos governamentais, o câmbio mais valorizado, os maiores juros do mundo e a maior carga tributária entre os países emergentes? Todos sabem que, para mim, a política consiste em ampliar os limites conhecidos do possível. Já os que insistem, na vida pública, em ampliar os limites comprovados do impossível estão apenas jogando com a sorte alheia.
          Não se trata agora de ser engenheiro de obra feita. Algumas das atuais dificuldades estavam mesmo escritas na estrela do PT. Mas o encantamento basbaque com as circunstâncias da economia, que não tinham como perdurar, tornou o novo governo impermeável à realidade. Não vou dizer que ele ficou cego e surdo, porque as pessoas com essas problemas desenvolvem outras faculdades para perceber o que vai à sua volta.
          O mal do governo foi mesmo a arrogância e, não sei em que medida, a ignorância, somada a uma excepcional inaptidão executiva. Tudo amenizado pela boa vontade até da oposição. O marketing e a publicidade exacerbados se encarregaram de inflar resultados e expectativas.
          Foi assim que o governo navegou sem rumo durante a primeira metade do mandato, sem chegar a lugar nenhum, como é típico de quem não sabe para onde vai. No início da segunda metade veio o estalo criativo: definir um rumo não para o Brasil, mas para o PT, com a antecipação da campanha eleitoral de 2014. Ou seja, não sabiam o que fazer com o Brasil, mas sabiam o que queriam para si: levar o País a se engalfinhar na luta político-partidária e desviar a atenção dos problemas e frustrações, confundindo promessas com realizações.
          Mas o ciclo econômico lulopetista chegou a fim: lento crescimento da economia, desaceleração do consumo e da criação de empregos e aumento da inflação. As pessoas vão-se dando conta das ilusões vendidas nestes últimos 11 anos nas áreas de saúde, educação, transportes - e mesmo na moralização da vida pública. Quando as ruas pedem "hospitais e escolas padrão Fifa", estão a exigir efetividade nas politicas públicas. Eis que surge, então, a líder insegura, incapaz de lidar com as expectativas das ruas e do empresariado.
          Longe de mim reduzir as manifestações apenas a essa reversão do quadro econômico. Mas é fato que elas não ocorrem no vazio. Uma faísca é inócua se produzida ao ar livre; se, no entanto, em meio a barris de pólvora... Os protestos serviram para evidenciar a todos que o governo não governa, que lhe falta a faculdade fundamental de atuar para diminuir o tamanho das crises. Ela e seus maus conselheiros fizeram o contrário.
          A Nação assistiu, então, a uma presidente desorientada. Sua primeira reação foi deslocar-se para São Paulo à procura das luzes de Lula, seu criador. Em companhia da chefe da Nação, seu marqueteiro... Seguiram-se duas falas desconexas em redes nacionais, em tom de campanha eleitoral. O País esperava que ela transmitisse segurança, compreensão, disposição e liderança. Em vez disso, promessas vagas e a ideia de transformar os médicos brasileiros na caveira de burro dos problemas da saúde. Contra as evidências, a presidente até negou que o governo injete dinheiro público a fundo perdido na Copa do Mundo.
          No auge da alienação, foi proposto instaurar uma Assembleia Constituinte só para a reforma política e, posteriormente, de se fazerem mudanças na legislação político-eleitoral via plebiscitos. Algo espantoso: a presidente e seus assessores mais próximos não tinham lido a Constituição. O Planalto tentava responder à crise que está nas ruas demonizando o Congresso Nacional e propondo saídas inconstitucionais.
          Dilma passou dois anos envolta pela "bolha de Brasília", conferindo-se ares de majestade, impermeável à realidade. Mas essa bolha estourou, como evidenciou o cerco aos três Poderes. E pasmem: não obstante a voz clara das ruas e a voz rouca da economia sob estagflação, o governo ainda encontrou tempo para reiterar o bilionário e inútil trem-bala, o mais alucinado projeto da era petista e não petista.
          Um governo não tem o direito de não governar. E o atual passou a ser governado pelos fatos. A presidente não conduz, mas é conduzida.

Por José Serra – Ex-prefeito e ex-governador de São Paulo.

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quarta-feira, 10 de julho de 2013

De poeta para poeta

          Maciel Melo, o negrinho de seu Heleno Louro e dona Maria de Lourdes, o pajeuzeiro de Iguaracy que tanto orgulha não apenas o seu berço natal, mas todo o Pajeú, todo Pernambuco, todo o Nordeste e grande parte do Brasil e do mundo, onde habitam aqueles que consomem musicalmente o que mais há de qualidade na poesia propriamente dita.
          A poesia de Maciel é um tempero especial no cardápio musical e que por muito tempo serviu de ingrediente na panela de muitos artistas renomados da nossa música como: Elba, Fagner, Flávio José, Alcimar e tantos outros.
          Até que um dia o negrinho de seu Heleno, resolveu temperar o próprio prato e assim o fez. Começou gravar as próprias composições e com seu talento incomum ultrapassou fronteiras, quebrou barreiras e tabus e tornou-se conhecido internacionalmente também como intérprete.
          Tendo contado sempre em suas andanças com a sombra eterna do seu mais íntimo parceiro, o violão. Inspirado em mestres como Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro, segue Maciel estrada a fora deixando sempre para traz nuvens de poeira que se encarregam de preservarem seus rastros de cantador e andarilho.
          Seu sotaque de homem da roça e de família pobre, que encontrou no talento e na perseverança a maneira mais fácil de driblar as dificuldades e vencer o “desafio das léguas” como ele próprio diz em um trecho de uma das suas poesias.
          O livro lançado recentemente vem mostrar a outra face do caboclo sonhador que vê a cada dia que se passa, seu sonho tornar-se realidade. Pelos relevantes serviços prestados à boa música, Maciel tem sido homenageado constantemente e merecidamente por canais de televisão e emissoras de rádio que sabem da importância do artista para com os veículos de comunicação.
          Fico feliz em fazer parte do rol de amigos deste grande artista que ainda deixará muitos véus de poeira para traz, palmilhará muitas léguas de estrada e inspirará muitos artistas jovens que veem na sua canção o adubo essencial para o fortalecimento de muitas hortas musicais, que continuarão dando frutos saudáveis e recomendados no cardápio do dia a dia das pessoas.

          Viva a poesia, viva a boa música, viva Maciel Melo.

Maciel Melo é assim,
Produz poesia pura,
Seu verso tem a doçura,
Da calda do alfenim,
Cheiro de terra molhada,
A casca da manga espada,
Picada por bem-te-vi,
Esse é nosso cantador,
O caboclo sonhador,
Orgulho de Iguaracy.

Diomedes Mariano (Dió) é escritor



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sexta-feira, 5 de julho de 2013

Esse é o Brasil da "Presidenta" Dilma e Lula



          O governo está inchado, e não só por causa dos 39 ministérios. Veja só um dos cargos que existe na hierarquia da nossa República:“chefe de gabinete do chefe de gabinete”. Aliás, será que o chefe de gabinete do chefe de gabinete também tem chefe de gabinete? Cartas para a Redação. (O Globo)

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Quem dá bola é o voto

          Não, senhores, vocês entenderam tudo errado. Ou fingiram que entenderam tudo errado.

          O povo não foi às ruas incendiar ônibus, queimar cabines de pedágio, depredar lojas e nem cantar o Hino Nacional porque queria o voto distrital misto ou porque não pode viver sem o voto em lista ou porque quer cláusulas de barreira para que partidos políticos tenham existência legal.

          A conversa da presidente da República, ao propor primeiro uma impossível Constituinte exclusiva e depois um plebiscito para uma reforma política é para boi dormir.

          A conversa é uma desconversa para fugir daquilo que realmente interessa.

          Todo mundo sabe que uma efetiva reforma política é necessária e saudável para limpar os vícios políticos do país e sabe também que o Congresso nunca fará isso por sua própria iniciativa porque ninguém legisla contra seus próprios interesses, assim como ninguém é obrigado a produzir provas contra si mesmo num processo criminal.

          A presidente aproveitou o barulho das ruas para fazer um gesto que significava fingir uma tomada de iniciativa e rolou a bola para o Congresso, que está fazendo um pouco de cera antes de mandá-la para escanteio.

          O Congresso sai do seu torpor milenar e começa a discutir projetos que estavam embolorando nas gavetas e o Executivo finge que toma as rédeas da iniciativa política reunindo seu gigantesco e inoperante ministério como se cancelar uma folga de fim de semana para discutir o sexo dos anjos tivesse alguma utilidade para desencalhar o carro de bois atolado no brejo da inoperância.

A sensibilidade da classe política é tão extraordinariamente míope que não percebeu ainda que quando a opinião pública apoia plebiscitos e reformas políticas, não está pensando em sutilezas como financiamento público ou privado de campanhas ou em votos de lista.


          O povo quer alguma espécie de reforma política que impeça que o presidente da Câmara vá ao jogo de futebol num avião oficial com montes de amigos ou que o presidente do Senado use avião oficial para ir a um casamento.

          Há um abismo conceitual intransponível entre o que os políticos pensam e o que está latente no inconsciente coletivo. E há um abismo maior ainda entre o que a presidente tenta dizer que quer e aquilo que o Congresso lhe permitirá fazer. A base aliada é fiel, antes de mais nada, a seus próprios interesses.

          A incipiente e jovem democracia brasileira precisa, sim, de mecanismos que a aperfeiçoem.

          O problema é que todos, Executivo e Legislativo, estão mais preocupados, neste momento, em mecanismos que afastem as pedras do caminho do único rumo que lhes interessa: o que leva à reeleição.

          Hoje, quem dá a bola é o voto.



Sandro Vaia é jornalista. Foi repórter, redator e editor do Jornal da Tarde, diretor de Redação da revista Afinal, diretor de Informação da Agência Estado e diretor de Redação de “O Estado de S.Paulo”. É autor do livro “A Ilha Roubada”, (editora Barcarolla) sobre a blogueira cubana Yoani Sanchez. E.mail: svaia@uol.com.br

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