O nosso blog foi construído e mantido durante todos esses anos através de colaborações, onde pudemos contar com colaboradores mais modestos, como o mantenedor do blog, mas também com os mais qualificados escritores do Piaui, casos de Francisco Miguel de Moura e João Bosco da Silva. E de muitos outros que tanto valorizaram este espaço, como Zé Joel, Zé Carmo Filho, Irvaldo Lima e uma infinidade de comentaristas que muito nos estimulavam a continuar com o blog.
Como este espaço foi fruto de muito luta, sempre tivemos o desejo de mante-lo em atividade, apesar da falta de incentivo, seja através das muitas novidades que aparece dia após dia na internet, que faz com que os internautas procurem cada vez mais essas novidades, e deixem de lado os já obsoletos blogs e portais. Ou mesmo pela falta de colaborações.
Mas, como colocamos acima o nosso desejo de manter acesa a chama do blog, resolvemos postar um texto relacionado com Francisco Santos e a história de seu povo. Esperamos que tenham a paciência, pois o texto é longo mas muito interessante.
Antes, se faz necessário fazermos uma apresentação do autor deste artigo. Uma monografia apresentada ao final do seu curso de Licenciatura em História, pela Universidade Federal do Piaui, Campus de Picos. Cleovan Sousa, historiador, escritor/poeta, conselheiro tutelar, ativo participante da vida social, cultural e religiosa de Francisco Santos.
Vamos iniciar a postagem através de tópicos, sendo o primeiro:
1 INTRODUÇÃO
O
trabalho em questão intitulado Francisco Santos entre a literatura e a memória:
práticas cotidianas na “terra dos espritados” nas décadas de 1960 e 1970, tem
por objetivo fazer uma análise dos aspectos cotidianos dessa pequena urbe
piauiense, destacando aspectos religiosos, culturais e sociais, no referido
período.
Desde
que começamos nossa licenciatura em história o grande dilema que nos permeia é
qual objeto de estudo escolher para a realização do nosso trabalho de conclusão
de curso. Até o terceiro período não tínhamos nem um norte sobre qual objeto de
estudo se debruçar, foi justamente nesse período, ao pagar a disciplina de
“Cidades e História”, ministrada pelo professor Dr. Raimundo Nonato Lima dos
Santos[1], que
surgiu o interesse pela discussão de cidades, a partir de então decidimos
trabalhar com essa temática.
O
recorte espacial escolhido – a cidade de Francisco Santos – se deu pelo desejo
de analisar e compreender como e quais eram as práticas cotidianas na cidade
nas primeiras décadas após sua elevação oficial à categoria de município, haja
vista que sua instalação se deu oficialmente no dia 24 de dezembro de 1960.
Além
do mais, em algumas conversas informais com moradores mais antigos da cidade,
costumeiramente se ouve relatos de que, “antigamente na cidade havia muitas
manifestações culturais que hoje já foram extintas”, “antigamente a cidade de
Francisco Santos era assim”, “antigamente o povo fazia isso”. Como era a cidade
de Francisco Santos no passado? Quais práticas cotidianas e manifestações
culturais eram essas? Para respondermos a esses questionamentos e construir uma
imagem da cidade, analisaremos os relatos orais dos moradores de Francisco
Santos e da literatura local, principalmente as obras de João Bosco da Silva[1] que
se referem justamente as décadas de 1960 e 1970, descrevendo suas práticas
cotidianas no período em estudo.
Foi
a partir desta curiosidade não apenas como historiadores/pesquisadores, mas
também como habitantes desta cidade e desconhecedores do seu passado, que nos
lançamos em pesquisar a cidade de Francisco Santos nas referidas décadas. Para
tanto discutiremos nesta pesquisa práticas cotidianas como educação, religião e
comércio. Propomos também uma representação do passado, onde destacaremos as
manifestações culturais que existiam nas décadas de 1960 e 1970.
Escolhida a temática para estudo, outra questão pertinente foi: onde conseguiríamos fontes para construção desta pesquisa? E foi lendo as obras de João Bosco da Silva, autor de contos, ensaios, cordéis, poesias e outros gêneros, que nos sentimos instigados a ir mais além da leitura, decidimos usar suas obras literárias para analisarmos como a cidade era apresentada nos escritos literários, bem como as produções de outros poetas e escritores locais. Percebemos que ele descreve várias práticas cotidianas da cidade de Francisco Santos dentro do recorte temporal de 1960 a 1970 condizente com nosso estudo, e isso nos instigou a buscar mais detalhes sobre a cidade nessas décadas.
Ao longo
da nossa graduação percebemos que a literatura se constitui como uma fonte
histórica, possível de se construir pesquisas a partir de sua análise. Sendo
assim, é preciso destacar que a cidade de Francisco Santos é riquíssima quanto
a sua literatura popular com diversas pessoas que se dedicam ao cordel, ao
verso, a poesia. Este trabalho nos possibilitou enxergar a relação de
intimidade existente entre a literatura e a história. As obras literárias nos
permitem, por exemplo, analisar e compreender uma sociedade, pois é fato que a
literatura possui duas dimensões: histórica e social. A característica da
literatura de possibilitar a compreensão de uma sociedade ou de um grupo
específico, já vem desde as sociedades primitivas como assegura Antônio
Cândido:
A poesia das sociedades primitivas permite
avaliar a importância da experiência quotidiana como fonte de inspiração,
sobretudo com referência às atividades e objetos fortemente impregnados de
valor pelo grupo. A medida que fala deles, o poeta assegura a sua posição de
intérprete, num sentido que a nós poderia frequentemente parecer anestético.
(CÂNDIDO, 2006, p. 40).
Dentro
dessa perspectiva nossa pesquisa se pauta na análise de produções literárias:
contos, crônicas, poesias e cordéis que trazem em sua essência a cidade de
Francisco Santos, sua gente, seu povo e aspectos relacionados à cultura,
religião, educação e comércio. Outra fonte utilizada foram os relatos e
depoimentos orais dos habitantes da cidade, a partir das informações recolhidas
das fontes orais por meio de entrevistas, questionários e conversas informais.
Após a coleta das informações, fizemos uma análise comparativa com a
literatura, buscando perceber quais são os pontos divergentes entre a memória
do povo e a visão dos literatos.
Para
compreender a cidade a partir da memória de seus moradores, torna-se de suma
importância o uso das fontes orais, dessa forma a história oral foi
imprescindível para a realização deste trabalho. Sobre a história oral
argumenta Sônia Freitas:
[...] é um método de pesquisa que utiliza a
técnica da entrevista e outros procedimentos articulados entre si, no registro
de narrativas da experiência humana. Definida por Allan Nevis como “moderna
história oral” devido ao uso de recursos eletrônicos, a história oral é técnica
e fonte, por meio das quais se produz conhecimento. (FREITAS, 2002, p. 19).
Tendo em vista que através de conversas
informais e também com a realização de entrevistas, onde os sujeitos
entrevistados podem narrar suas experiências e lembranças de Francisco Santos
das décadas de 1960 e 1970 pudemos (re) construir todo um passado que os
moradores da cidade guardam na sua memória. Le Goff (2003) entende a memória
como a capacidade de conservar certas informações, “graças às quais o homem
pode atualizar impressões ou informações passadas, ou que ele representa como
passadas” (LE GOFF, 2003, p. 423).
Sobre
as pessoas entrevistadas, as quais nos ajudaram, através de suas memórias e
relatos a construir esse trabalho, foram seis, sendo dois homens e quatro
mulheres. São eles: João Bosco da Silva, 72 anos, aposentado, poeta e escritor,
hoje reside na capital Teresina, e dedica-se em escrever poesias, contos e
crônicas; Rosa Isaura Santos, 63 anos, aposentada e poetisa, atualmente
dedica-se em prestar serviço na igreja, onde é membro ativa; Maria Carleusa dos
Santos Batista de Carvalho, 65 anos, aposentada, atualmente reside em Picos;
Rosa de Lima Carvalho, 61 anos, aposentada, exerce funções na igreja e é membro
do Apostolado da Oração; Lenite Maria da Rocha Sales, 72 anos, aposentada,
também se dedica a servir na igreja; Antônio Borges de Moura, 95 anos,
aposentado, ultimamente pela idade não se dedica a nenhuma atividade.
Sobre
a fundamentação teórica deste trabalho, nossa discussão foi embasada pelos estudos
de Roberto Lobato Corrêa (2000), o qual faz reflexão sobre o que é, e como se
constituí o espaço urbano. Este, para o autor, é algo articulado e fragmentado,
onde há diferentes núcleos e diferentes processos sociais, definindo o espaço
como “um produto social, resultado de ações acumuladas através do tempo, e
engrenadas por agentes que produzem e consomem espaço” (CORRÊA, 2000, p. 11);
Raquel Rolnik (1995) trazendo a ideia de cidade como ímã, um campo magnético
que atraí, reúne e concentra homens. Para Rolnik “a cidade é antes de mais nada
um ímã, antes mesmo de se tornar local permanente de trabalho e moradia”
(ROLNIK, 1995, p. 13); Michel de Certeau (2008), nos fazendo pensar em “A invenção do cotidiano” a cidade como
escrita e seus moradores como escritores; Sônia Freitas (2002), nos propõe uma
reflexão aprofundada no que diz respeito à relação entre história oral e
memória; Ecléa Bosi (2003), nos
permitindo explorar o campo de experiência pessoal com os eventos cotidianos,
registrados na lembrança. Bosi (2003) que nos propõe que há uma história construída
ao longo da vida, a partir das experiências do dia-a-dia; Michael Pollak
(1989), o qual faz reflexões acerca da memória, apontando esta como sendo uma
constituição de acontecimentos, pessoas, personagens e lugares. Pollak (1989)
destaca que os acontecimentos podem ter sido vividos pessoalmente, ou vivido
pelo grupo ou pela coletividade a qual a pessoa se sente pertencer.
Este trabalho foi dividido em dois capítulos. No
primeiro capítulo intitulado “Um olhar
sobre Francisco Santos: pensando a cidade de Francisco Santos e suas práticas
cotidianas a partir da literatura e da memória” foi feito uma abordagem
sobre as práticas cotidianas dos citadinos nesse período. No segundo capítulo
intitulado “A cultura de um povo:
manifestações culturais na cidade de Francisco Santos nas décadas de 1960 e
1970” dedicamo-nos em abordar as formas de manifestações culturais
existentes nessas décadas.
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