JOÃO BOSCO
DA SILVA
FAZENDEIRO
(DI)VERSOS
(CRÔNICAS-POEMA)
TERESINA-PI
RESENHA DA RESENHA
Por: João Bosco da Silva
Artigo da revista VEJA, edição de 14
de julho de 1999, assinado por Carlos Graieb, sob o título “Tribos Invisíveis”,
inicia-se por afirmar que “interessar-se por poesia é como mexer num vespeiro”.
Como fala de vespeiro, e vespa é animal, ele divide esse vespeiro em famílias,
agrupando-as de acordo com as características de cada uma delas. Assim
é que existe a família dos neovan-
guardistas, a dos neomarginais,
a dos concretistas, a dos neoconservadores, dentre outras. E vivem, esses
grupos, a se digladiarem, sendo que as farpas mais agudas são terçadas entre
neovanguardistas e neoconservadores. Os neomarginais, por e xemplo, segundo Graieb,
são marcados “por um grande desejo de dessacralizar a
literatura, por um quase desprezo pela cultura erudita”, ao passo que os
neoconservadores pugnam por “um retorno às formas fixas, como o soneto,
ou aos versos metrificados...”
Sem querer entrar nesta briga, mas entendendo que os últimos não produzem
“versos reumáticos” ou que eles não são a “decadência da cultura ocidental”,
como acusam os neovanguardistas, e comungando com aqueles que dizem que a estes
“falta visão” e que “todos escrevem a mesma coisa, sem nada
significar”, e ainda que “eles (os poetas desse grupo) têm muitos recursos,
conseguem efeitos pirotécnicos, mas parece não ter nada a dizer sobre a vida e
a experiência (pois) falta-lhes ... o gesto ativo da criação” - diante de tudo
isto, acabei por fazer minha opção pelo grupo dos neoconservadores, por
entender que sua poesia é mais rica, mais elaborada e de feitura bem mais
difícil e com enormes possibilidades de permanência.
Acho inconcebível que alguém tenha coragem, em sua academia ou em seu
grêmio literário, ou mesmo na banca de cerveja, de levantar-se e declarar: “Vou
declamar um poema de um jovem poeta, muito promissor,
que acaba de ganhar, entre nós, concurso literário de poesia”. E sapeca os
versos de elevadíssima inspiração:
“No meio da reunião ele saiu pela
janela
do oitavo andar
prosseguiram
sem ele”
Ou:
“A forma da foda não deforma o feto”.
Ou, ainda:
“Segunda
a Sexta
Seg
o Sex”
Posso estar enganado, e muita gente aprecie este tipo de poesia e, inclusive, a
declame e recite, até como forma de dar força e unidade ao grupo. Mas
quero registrar que Manoel Paulo Nunes, a cuja acurada crítica e senso de
observação ninguém põe ressalva, já destacava, em artigo publicado há algum
tempo, que Cassiano Ricardo andava um tanto esquecido pelos leitores. Se a
poeira do tempo, em pouco mais de meio século, recobriu glórias e lauréis do
grande Cassiano, um dos monstros sagrados do modernismo poético de 22, há que
se indagar sobre quanto tempo resistirão os “poemas” acima
referidos.
Retornando ao
artigo de Graieb, afirma ele serem os neovan-guardistas o grupo “que melhor
define o ‘estilo de época’. Seu ideário é eclético, para dizer o mínimo. Eles
assumem legados do modernismo de 1922, como o coloquialismo, o poema-piada e o
poema-minuto”. A amostra acima ilustra muito bem as colocações do articulista.
Faltaram, aí, o poema-charada, o poema-axioma, o poema-sentença, dentre outros,
pois só falta alguém apresentar um livro de máximas ou de pensamentos
como de alta poesia. Não quero dizer, com isto, que poesia não exista em
pensamentos ou máximas, bem assim que não existam verdadeiros monumentos
poéticos na intitulada “poesia moderna”. Eles existem, e de muito boa feitura e
qualidade.
Longe de mim o sentimento da gratuita iconoclastia, mesmo porque conheço as
minhas limitações poéticas. Na poesia moderna, por exemplo, minha arte é parca,
se não nula. Não consigo produzir, como re- querem alguns, uma poesia cerebral,
de subentendidos, de sugestões, coloquial, sincopada ou hermética. Talvez o que
produzo nem seja inteligente, pois carece de altos vôos de pensamento ou
tiradas filosofais, como estas que acabo de realçar. Ademais, minha poesia é irritantemente
lógica, completa, acabada. “Analítica, certinha demais”, conforme disse-me um
crítico amigo. Não o nego, e reconheço que isto priva o leitor do prazer da
descoberta, tira-lhe o gostinho de, também, participar do momento de recriação
poética. Diante desta sincera e severa auto-crítica, não espere o
compassivo leitor encontrar neste FAZENDEIRO (DI)VERSOS estalos ou insights.
Por tudo isso, e também por achar que minha formação literária e pendor
artístico não combinam muito bem com algumas destas formas do moderno fazer
poético (estruturalismo, experimentalismo, coloquialismo, pirotecnia
verbofigurativa) optei por dar o nome de “CRÔNICAS-POEMA” a esta
tentativa de feitura estético-literária no gênero POESIA
MODERNA.
Que me perdoe o benevolente leitor, em primeiro lugar, por desdenhar de quem,
talvez, esteja praticando corretamente a arte da criação, e, em segundo, pela
pretensão de incluir-me na categoria de poeta. Talvez esta atitude nada mais
seja que apanágio daqueles que, por incapacidade de eles próprios fazerem, não
querem admitir que outros o façam, e muito bem. Posso afirmar, contudo, que não
critico por inveja, embora reconheça que algumas vezes, diante de uma
obra-prima, experimente certa “inveja res- peitosa”, passando, então, a admirar
seu mestre e criador. É mais ou menos aquilo que Milton Nascimento expressa em Certas Canções: “Certas canções que ouço
/ cabem tão dentro de mim / que perguntar carece / como não fui eu que fiz?”
Aqui, não é o caso.
Finalizando, quero dizer que, pelo menos em um ponto, concordo com Carlos
Graieb, quando diz: “No Brasil, como em outros países, basta uma
espiada mais atenta para constatar que os poetas formam um
ecossistema peculiar, com suas regras e manias. Como no caso das vespas,
trata-se de uma sociedade industriosa e agitada. Eles escrevem, publicam - e
até brigam” - afirma o colunista, em sua chamada logo abaixo do título do
artigo aqui referido.
Vivam, pois, os
poetas-vespa!
ESTAÇÃO 22
(Tentativa de crítica à crítica do autor do artigo)
Às vezes,
até por falta do que fazer,
pega-se o poeta a “poetar” de brincadeira.
E vai largando assim...
dadaisticamente...
uma palavra aqui,
uma palavra ali,
ora arrumando uma outra no final da pauta,
outra mais no começo,
ou vice-versa,
em exercício de experimentação concretista,
estruturalista,
surrealista,
figurativa
et cétera e tal...
Em redação circular,
ou interpolada
ou interceptada,
ou interpenetrada,
ou desconectada
- vai monologando,
ou circunloquiando em torno de um tema,
ou de temas diversos,
com ou sem transição de assuntos,
deixando em suspenso o sentido de uma frase,
ou fabricando lacunas,
ou fazendo jogo com pedaços de sílabas,
criando ou reinventando palavras,
ou produzindo subentendidos
na síncope das orações soltas,
ou nas reticências...
E o leitor?
Que se dane o leitor no esforço cerebral
de arranjar sentido para o alinhavo tortuoso,
ilógico e sem nexo
em que navegam a aparente incoerência e a inestética
da recriação do artista do verso.
Teresina-PI., 27.08.99
Homenagem àquele que tão bem
soube fazer o que de modo algum jamais eu faria:
p o e
s i a !
“Vida
toda linguagem -
como todos sabemos
conjugar esses verbos, nomear
esses nomes:
amar, fazer, destruir,
homem, mulher e besta, diabo e anjo,
e deus talvez, e nada.
“Vida toda linguagem,
vida sempre perfeita,
imperfeitos somente os vocábulos mortos
com que um homem jovem, nos terraços do
(inverno contra a chuva,
tenta fazê-la eterna - como se lhe faltasse
outra, imortal sintaxe
à vida que é perfeita
língua
eterna.”
Belo poema de Mário Faustino (Vida toda linguagem)
G E N É
R I C O S
O GRANDE EDIFÍCIO INACABADO
v
e
m . . .
. . . das trevas absconsas do albor dos tempos
sempre aumentando
crescendo
agigantando-se
tijolo a tijolo
desde o alicerce sem autoria
até à construção maravilhosamente inacabada
espiral sempre aberta
sem croquis
ou plantas previamente aprovadas
mas babel harmoniosa
em que tudo se i n t e r l a ç a
e e n t r e l a ça
i n t e r p o l a
e e x t r a p o l a
a s c e n d e
e t r a n s c e n d e
e n g l o b a
e c o n g l o b a
no somatório geral de
conhecimentos
e experimentos
o grande edifício
inacabado
aberto e renovado
da Cultura dos Povos...
Hóstia Biônica
Diante do “monstro
sagrado”,
o operador eficiente digita informações
para relatórios ao todo-poderoso chefão,
chefes
e chefetes:
- Não sobrevivem sem eles.
Apertam-se botões,
clicam-se sobre mágicos
sinais...
- e o resultado instantâneo no painel luminoso!
Fantástico!
... Subirá a cotação das ações da
Orwel Corporation.
... A BV de Londres fechará em baixa;
a de New York, em alta.
... Prenúncio de crise na CIA.
... Tendência de golpe de Estado no Chile.
Estas são informações obtidas
a partir da análise de alguns poucos dados.
Fantástico!
Na civilização do consumo,
na era do plástico,
do estético
(do não-ético),
o patético contraste.
Na era da cibernética,
“O homem toma a hóstia biônica
na certeza de que ali está o Novo Cristo
redivivo nele próprio”. *
A psico-história o aponta,
com antecipação de milênios,
como o SEMIDEUS terreno
a tornar-se o futuro Deus Galáctico.
Fantástico!
Criou fórmulas complicadas,
libertando-se da, para se prender à máquina
- escravo submisso ao Novo Deus de Aço Eletrônico.
Cibernética!
Biônica!
Eletrônica!
- Façam-se Tronos para os Novos Deuses!
Faz tudo muito bem feito
- e rápido! -
a eletrônica:
- calcula milionésimos,
reduz a mícrons a matéria;
mensura até a consciência do homem,
bastando que se lhe forneçam alguns dados
da personalidade!
Fantástico!
Só lhe falta mesmo fazer amor.
( - Será?
- O amor já não se faz como antigamente...
- Quem sabe, programando... ?)
Fantástico!
Viva o Senhor Computador!
Pena haver faltado no seu equipo
neuro-físico-eletrônico,
um chipzinho de nada:
- o chip que seria,
na réplica da sociedade dos homens,
o ministro
para os negócios dos ¾ da humanidade faminta!
F a n t á s t i c o !
Ah!
houvesse esse pequeno chip
em sua memória fantástica,
quem sabe haveria
muito mais chá na hora do pão leve dos homens!
* Texto de Sebastião Nery
_______________________________________________
(Por ocasião do aniversário de 2.500 anos da Pérsia, ao tempo do Xá Reza
Pahlevi, em que foi servido um banquete para exatos
2.500 convidados.)
OS NOVOS CRUSOÉ
“Meu filho!
Meu filho!
Não precisa atravessar a galáxia;
pode brincar mesmo no sistema...”
Charge de Ponte Preta, há alguns anos,
com sabor sátiro-anedótico
e uns longes de incredulidade nos incríveis
eventos de então.
Hoje,
os novos Crusoé
preferem o silêncio abismal das ilhas estelares!
Em menos de 100 anos,
Júlio Verne ficou na saudade!
Oxalá!
dentro em breve não estejam nossas mulheres
trogloditas
servindo de cobaias
a “inteligências” extraterrestres... !
E S P E C T R O
Quem é aquela criatura sem rosto,
perdida na multidão?
Aquele que caminha sem destino,
bamboleante,
sem coração,
sem alma?
E parece perseguir uma sombra,
e tropeça na própria sombra?
E vai e volta,
se vira e procura,
mas nada encontra - nem chega?
Partiu em busca de um sonho,
mas não partiu nem ficou:
- perdeu-se na neve,
confundiu-se na bruma,
tropeçou na sombra de sua sombra
e encontrou-se abraçado ao nada!
Aquele que fura o espaço,
e se liberta da escravidão da força atrativa,
e quebra a lei da gravidade,
e conquista o Satélite,
e - maravilhado! -
descobre que a Terra é azul,
e invade o sistema,
e perfura a galáxia,
e faz troça do Deus infinito:
aquele é o homem!
O Bicho-homem,
que ainda não se conquistou a si mesmo,
mas poderia possuir o infinito
com a força cósmica do amor!
JOÃO
BOSCO DA SILVA
ESTAÇÃO
DO ESTILO E FORMA
(SONETOS)
TERESINA-PI
HOMENAGEM
FEITA DE PEDAÇOS
Querida, ao pé do
leito derradeiro,
em
que descansas desta longa vida,
aqui
venho e virei, pobre querida,
trazer-te
o coração de companheiro.
(Machado de Assis)
Se lá no assento etéreo, onde subiste,
memória
desta vida se consente,
não
te esqueças daquele amor ardente,
que
já nos olhos meus tão puro viste.
(Camões)
E assim, quando mais tarde me procure
quem
sabe a morte, angústia de quem vive,
quem
sabe a solidão, fim de quem ama,
Eu possa me dizer do amor (que tive):
que
não seja imortal, posto que é chama,
mas
que seja infinito enquanto dure.
(Vinícius de Moraes)
A
B E R T U R A
ESTAÇÃO DO ESTILO E FORMA
Como
em toda e qualquer londrina gare,
de
horários certos e precisos trens,
também
nessa Estação do Estilo e Forma
há
regras certas para se chegar.
Igualzinho
aos bem-postos silogismos,
que,
em premissas maiores e menores,
levam
a inevitáveis conclusões,
também
se exige, aqui, final feliz!
Por
tais e tantas, já nessa Estação,
por
lhes faltarem engenho, arte e compasso,
hoje,
poucas pessoas desembarcam.
Com
métrica e com rimas, amarrado
a
duas quadras e mais dois tercetos...
Camões?
Por que inventei fazer sonetos?
Teresina-PI;
26.06.97
AOS
ASES DO DOLCE STIL NUOVO
Da Língua Portuguesa, artífice
acabado,
com o domínio total das formas da
poesia,
Camões fez o soneto, gênero amarrado,
fluir como regato em doce melodia...
Mestres lusos também o foram o
renegado
Bocage, que, ao depois, em crente
tornaria;
e o não menos ilustre Antero, o
inconformado
da Questão Coimbrã e da Democracia!
E em que pé colocar Correia, Alberto,
Olavo,
que da mesma colméia foram mel e favo
- trilogia melhor de
perfeccionistas?!!!
Última
Flor do Lácio, inculta...
- és culta e bela!
Como não aplaudir aquela enorme, aquela
plêiade brasileira de hábeis
sonetistas?!!!
Teresina-PI., 15.01.91
CHAVE DE OURO
Primeiro,
busco a idéia para, então
-
rútila como o raio que esquadrinha
o
chuvoso horizonte em toda a linha –
o
processo ensaiar da criação.
Começo
a rabiscar, cortar... Se não
acho
a palavra certa, bem certinha,
tão
certa quanto a espada na bainha,
frases
inteiras tornam-se borrão.
Vou
garimpando, assim, na mina escura,
a
ganga das palavras na bateia,
buscando
achar-lhes forma e formosura.
E
ao burilar do último terceto,
escoimados
o erro e a verborréia,
passo
a chave de ouro em meu soneto.
Teresina-PI;
12.01.91
TEMÁTICA GERAL
PÔR-DE-SOL
(A Raimundo Correia)
O sol desfaz-se em ouro nas ramadas,
a tarde morre em leves tons,
e traz saudade e dor
e nostalgia!
Ouve-se então, ao longe, nas
quebradas,
da ave-maria os doces sons...
Um lívido palor
já se irradia...
Hora em que as aves voltam aos
ninhos...
Até a natureza,
morrer parece...
E a caminhar pelos caminhos
d’alma, a tristeza.
A noite desce...
Teresina-PI., out/64
AS FLORES
Têm
uma enigmática linguagem,
também
misterioso crescimento,
vivem
libertas na camaradagem,
virgens
dos bosques se embalando ao vento!
Têm
uma vida breve, de um momento:
dir-se-ia
uma efêmera passagem.
Simbolizando
qualquer sentimento,
representam
a mais perfeita imagem.
Ornamento
ideal pra qualquer fim,
elas
vicejam, lindas, no jardim,
e
a sua distinção é merecida.
Tal
como diz Bilac em seu poema,
elas
encerram divinal emblema,
ornando
a morte e ao mesmo tempo a vida.
Teresina-PI;
27.02.68
COISAS DO CAMPO
Olhai, olhai aquele passarinho,
em adejos alegres lá no galho...
Agora vai sorver com seu biquinho
o néctar matinal do fresco orvalho...
Olhai, olhai, que belo aquele ninho,
feito (talvez em meu pensar não
falho)
por esse joão-de-barro pequenino,
com persistente e árduo trabalho!...
Olhai, olhai do campo as belas cousas:
o bosque verdejante, as mariposas
e o pastio dos bois e das ovelhas...
Olhai, olhai aquela linda flor,
que fornece o dulcíssimo licor,
matéria-prima do mel das abelhas...
Teresina-PI., 28.02.69
PRECE DE LAVRADOR
De repente, uma tarde, o sertanejo
nota
que o tempo está mudado: faz muito
calor.
Circunvaga o olhar, então, ao
derredor,
e vislumbra no céu uma nuvem remota.
E, logo alvoroçado, o pobre lavrador,
Fervoroso ao bom Deus uma prece
devota,
e enquanto que o suor a sua fronte
embota,
vai prosseguindo firme em seu rijo
labor.
Traça em seguida os planos para a
plantação,
e vê-se mentalmente na execução
da próxima tarefa, com bastante zelo.
Mas a longínqua nuvem passa branca e
alta,
não lhe trazendo a chuva que faz
tanta falta...
E ele espreita o horizonte em novo e
mudo apelo.
Teresina-PI., 20.02.69
RETIRANTES
(Ao Povo Nordestino)
Pelas estradas tórridas avança
a multidão faminta e fatigada,
levando apenas pálida esperança
e a saudade da gleba esturricada.
Ontem, a terra: esteio e segurança;
hoje, a seca: poeira... e
pedra... e nada!
E assim, faltando a básica sustança,
vão as famílias pondo o pé na
estrada.
Espectros que caminham sem destino,
esquecidos da cor, da idade e sexo,
buscando alívio para o desatino.
Retirantes em êxodo. Vão juntos,
agora unidos pelo mesmo nexo,
os caminhos juncando de defuntos.
Teresina-PI., 09.10.69
Inspirado no capítulo “Os Salvados”
de A Bagaceira.
A CHUVA
O
firmamento azul é, de repente,
por
grossas nuvens túrgidas tomado,
e
os horizontes, paulatinamente,
revestem-se
de negro cortinado.
Brincam
nos ares eletrificados,
corcéis
de fogo em forma de serpente,
enquanto
estrugem os trovões, rolados,
enchendo
de terror a muita gente.
Ato
contínuo, em meio a tais sinistros,
das
torneiras São Pedro abre os registros,
e
a chuva cai, trazendo promissão.
A
Terra, sequiosa e agradecida,
a
bebe toda... E farta verde vida
em
breve eclodirá pelo sertão.
Lagoa
Bonita-Poção de Pedras-MA; 16.04.69