quarta-feira, 27 de março de 2013

A RELIGIÃO - Os Jenipapeiríadas - Sétimo Canto


                       Como uma grande parte dos nossos leitores, já estava ansioso para fazer a publicação deste sétimo canto que faz parte deste grandioso poema intitulado OS JENIPAPEIRÍADAS. A qualidade da obra de João Bosco da Silva é inquestionável, fazemos a publicação e deixamos para os nossos leitores fazerem as suas considerações.


                         A    R E L I G I Ã O 

                       I
                                        
               Nascida como nasciam
               as povoações antigas,
               sob o símbolo da cruz
               e amparadas pelas vigas
               da virtude e da moral
               - o trigo dentre as urtigas –
               Jenipapeiro nasceste,
               e à sombra cristã cresceste. 

                       II

               Exato no ano mil
               novecentos e dezoito,
               cem anos após chegadas
               aquelas pessoas oito, [1]
               baianos que aqui buscavam
               talvez algum valhacouto
               - inaugurou-se a capela,
               pequena, porém singela.
  
                      III

              Buscaram a proteção
              da santa virgem Maria,
              intercessora maior,
              doce mãe que negocia
              junto a seu filho no céu
              os pleitos da freguesia.
              Livrai-nos, pois, santa virgem,
              do pecado e da vertigem.

                      IV

              Para gerir os negócios
              da igreja, sua grei
              encarregou Seu Licínio,
              mui conhecedor da lei,
              um Salomão conselheiro,
              sábio como aquele rei,
              e justo como ninguém.
              tido e havido homem de bem.

                      V

              Com as chaves da capela,
              enfeixou em suas mãos
              os interesses do povo,
              sejam os civis e os cristãos;
              operando em solo fértil
              a semeada dos grãos,
              viu traduzir-se em tributos
              a messe de belos frutos.


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Cultura & Arte - Por Irvaldo Lima


Soneto para a "Ex"
                              Por Irvaldo Lima

Em contos de fadas era uma vez...
O meu conto triste teima em persistir
de não suportar chamar-te de "Ex",
pois meu coração tende a insistir.

Não sei nada hoje ou mesmo o porvir,
só sei do passado, quanta intensidade.
Tentando quebrar as grades pra fugir
sou prisioneiro eterno da saudade.

Como eu não sei, só sei que você fez
do céu ao inferno eu interagir
sempre à procura intensa da verdade.

Não repita mais quem sabe? Ou talvez,
dê um basta em tudo, se assim preferir
que abrirei as portas para a liberdade!!"

Veja também(Irvaldo Lima)

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segunda-feira, 18 de março de 2013

Que boa gestora, hein, seu Lula?

                                                                    Por Ricardo Noblat

    Era uma vez a presidente da República que contava com seis anos de parceria para oferecer a seus aliados. Foi quando com medo de perder a vez para seu antecessor decidiu antecipar a próxima campanha eleitoral.
    Um aliado mais esperto aproveitou a ocasião e trocou o status de aliado dela pelo de concorrente.
    Sabe o que aconteceu?
    O poder de barganha da presidente diminuiu. E aumentou o dos aliados.
    Decodificando: a presidente da República, Dilma Rousseff.
    Outro dia, por sinal, ela confidenciou a um ministro: o empregado que cuida das emas do Palácio do Planalto deixou que uma bicasse Nego, o cão labrador que o ex-ministro José Dirceu lhe deu de presente.
    Dilma não pensou duas vezes: convocou o empregado à sua presença e deu-lhe a maior bronca. Pensou em transferir as emas para a Granja do Torto. Desistiu.
    O antecessor que poderia atropelar a presidente: Lula.
Dilma não é santa da devoção do PT. Lula é o padroeiro.

Foto: Gustavo Miranda / O Globo

    A maior fatia do PT e os demais partidos que sustentam o governo de Dilma gostariam de ter Lula de volta à presidência. O próprio Lula gostaria de voltar.
    Preparava-se para sair em caravana pelo país em defesa do PT, atingido pelo resultado do julgamento do mensalão, e dele mesmo - aquele que de nada sabia.
    Sequer sabia que a sua fiel secretária Rosemary de Noronha estimulava tenebrosas transações dentro do governo. E que o levara a empregar quem seria preso depois pela Polícia Federal por suspeita de corrupção.
    Pobre Lula!
    Pois bem: para evitar o risco de ele se animar com a perspectiva da volta, Dilma procurou-o para uma conversa definitiva. Quer ser candidato? - perguntou-lhe. Lula negou. Ela insistiu. Ele negou.
    Dilma disse que o apoiaria com entusiasmo caso ele sonhasse com um novo mandato. Lula negou pela terceira vez.
    Dilma então pediu-lhe para que aproveitasse a festa de aniversário do PT e lançasse seu nome à reeleição. Lula lançou - sem entusiasmo convincente, admita-se.
    Compreensível. Nem mesmo ele ainda é capaz de prever o futuro. E se por um motivo qualquer fosse obrigado a sair candidato no lugar de Dilma?
    O aliado mais esperto que virou concorrente de Dilma: Eduardo Campos, governador de Pernambuco.
Sob o lema "2013 é para governar, deixemos para fazer campanha em 2014", ele viaja o país fazendo campanha, e governa quando lhe sobra tempo.
    É candidato para ganhar ou perder. Contra Lula ou Dilma.
"Não gosto de perder. Mas serei candidato até mesmo para marcar posição se esse for o desejo do meu partido", ouvi dele há poucos dias.
    Ao resolver patrocinar a candidatura de Dilma à sua sucessão, Lula sacou uma frase que passou a repetir como se fosse um mantra: "Ela é melhor gestora do que eu."
Presidente bom gestor é uma mistura de presidente bom executivo e de presidente bom político.
    Lula cercou-se de executivos razoáveis. Na política deu um show. Dilma é uma executiva à moda antiga, que ouve mal. E uma política sem gosto pela política.
Em 2011, travestiu-se de faxineira ética e demitiu ministros autores de malfeitos. Ninguém perguntou por que os nomeara.
    No início do ano seguinte, jogou fora a fantasia de faxineira quando um dos poucos ministros a merecer seu afeto foi acusado de ter recebido por consultorias que não deu.
    Desmontou a Comissão de Ética da presidência que a obrigou a despachar o ministro do Trabalho, Carlos Lupi.
No último sábado, Lupi desfilou feliz pelos amplos salões do Palácio do Planalto. Fora trocado por um neto de Brizola, um deputado fraquinho, seu desafeto.
    Com medo de perder o PDT para Eduardo Campos, Dilma substituiu Brizola por um serviçal aliado de Lupi. Outro partido que perdeu ministro no rastro da faxina ética deverá ganhar em breve um ministério.
    Onde já se viu partido recusar cargo em governo?
    O PSD de Gilberto Kassab, ex-prefeito de São Paulo, recusou na semana passada.
    O PT ocupa as cadeiras numeradas do governo. O PMDB, a arquibancada. Os demais partidos se apertam na geral e espicham a cabeça para enxergar os lances do jogo.
    O PSD não tem pressa. Preferiu valorizar seu passe junto a Dilma e a Eduardo.
    Lula loteou seu governo no segundo mandato. Dilma, no primeiro para assegurar o segundo. Boa aluna.
    O primeiro ano do governo Dilma foi pior do que o último ano do governo Lula. O segundo ano do governo dela foi pior do que o primeiro. O terceiro em curso, a se ver.
    A inflação alta disseminou-se. A Petrobrás nunca perdeu tanto valor (quem foi mesmo a presidente do Conselho de Administração da empresa durante o governo Lula? Advinha.) O Brasil estagnou no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano.
    São 39 ministros e nenhum se destaca por ter emplacado algum projeto notável. Mas como emplacar um projeto ou mesmo uma vaga ideia em um governo cuja presidente trata os assessores aos gritos, centraliza o que pode e o que não deveria, e pede para ler com antecedência discursos que só mais tarde ouvirá?
    Que bela gestora, hein, seu Lula?

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sábado, 16 de março de 2013

Eduardo Campos: Ser ou não ser.


          "Dá para fazer muito mais" que a presidente Dilma Rousseff. Com esse, digamos, slogan, o governador Eduardo Campos (PSB-PE), de Pernambuco, passou seu recado a um grupo de 60 empresários que se reuniram anteontem em SP, num jantar, para conhecê-lo melhor -e descobrir se ele é, mesmo, candidato à presidência. Boa parte saiu de lá com a certeza de que Campos vai, sim, se lançar contra Dilma em 2014.

          O encontro foi na casa do empresário Flávio Rocha, da Riachuelo. E Campos soltou o verbo. Começou dizendo que o Brasil teve grandes conquistas nas últimas décadas -e logo engatou crítica que a oposição sempre fez a Lula, a Dilma e ao PT: "O Brasil não começou ontem. Não começou com o partido A, B ou C".

          Na sequência, engrossou o coro dos que dizem que as coisas no país vão bem -mas podem piorar. "Não há grande incômodo nas grandes massas. Não há na classe média esse sentimento, nem de forma generalizada no empresariado. Mas há, nesse instante, nas elites, grande preocupação com o futuro. Há o sentimento de que as coisas podem piorar."

          Os "florais aplicados em todas as crises" não funcionaram desta vez, diz Campos. "E mais do que de repente começa uma série de medidas, em série, em relação a vários setores, sobretudo, no início, na área do petróleo", segue, referindo-se aos pacotes lançados por Dilma. "Há um sobressalto daqueles que foram atingidos e daqueles que não foram atingidos por medidas." Para ele, "se estabelece uma ansiedade total".

          "E a tudo isso se somou a antecipação do debate eleitoral", segue o governador, referindo-se, sem citar o nome de Lula, ao fato de o ex-presidente ter lançado Dilma à sucessão presidencial. "Um debate maniqueísta, eu sou o bem, você é o mal."

          Na sequência, Campos passa a criticar a campanha presidencial de 2010, quando Dilma Rousseff disputou com José Serra (PSDB-SP). "Nós tivemos uma campanha das mais pobres do ponto de vista do conteúdo. Acusação de lá, defesa de cá. Acusação de cá, defesa de lá. Sinceramente, não dá para respeitar como um debate à altura dos desafios do Brasil. E isso deixou as coisas desamarradas para o futuro."

          "Um monte de político se junta e diz: 'Olha, a gente precisa ganhar a Presidência da República'. É como dizia o meu avô [Miguel Arraes]: na política, você encontra 90% dos políticos atrás de ser alguma coisa. Dificilmente eles sabem para que."

          É chegada a hora, portanto, de debater. E é o que o governador está fazendo, ainda que desperte a ira de Lula, de Dilma e do PT -até então seus aliados. "Esse é o momento para que o Brasil aprenda a viver com diversidade. Fazer crítica não é ser contra, não é ser inimigo." E crítica é o que não falta. "O estado que está aí, as políticas, as normas como são feitas, precisam evoluir."

          "Dá para ser melhor. E não é uma ofensa para quem está aí você dizer que dá para ser melhor. Nós queremos mais. E que bom que queremos mais, né? Isso deveria desafiar as pessoas a fazer, a quebrar o velho costume e afirmar novos valores." "Dá pra fazer muito mais", repete Campos. Para, então, disparar o torpedo: "E isso não vai ser feito se a gente não renovar a política. O pacto político que hoje está no centro do governo que eu defendo, que ajudei a eleger, a meu ver, não terá a condição de fazer esse passo adiante. Não vai fazer. As últimas eleições no parlamento brasileiro [em que Renan Calheiros foi eleito presidente do Senado com o apoio de Dilma e do PT] são uma indicação. É ficar de costas para tudo isso."

          O governo, além de tudo, "às vezes não dialoga". A solução "é falar com o governo pela imprensa. Não quer me receber? Você pode tuitar. Eu, por exemplo, tive a oportunidade de dar a minha opinião sobre a Medida Provisória dos Portos pela imprensa, porque não tive a oportunidade de discutir [com Dilma] antes. Apesar de o meu estado ter o porto público mais eficiente do Brasil. Eu podia até ser convencido de que estava certo. Mas não custava nada ouvir a mim e a outros."

          "Quanto mais popularidade o governo tiver, mais paciência e diálogo deve ter", afirma. "E popularidade vai e vem. Popularidade é uma coisa. Voto é outra coisa. O ano, afirma ele, deveria ser o da construção de "convergências políticas". "E nós corremos um sério risco de botarmos 2013 fora."

          "Enquanto o Brasil diz que tem o petróleo do pré-sal, importa gasolina. A Petrobras, que já foi 'case' de sucesso lá fora, tá cheia de problema. E aí? Vamos ficar discutindo a eleição que vai ter em 2014 ou o país? Porque daqui a pouco a gente não sabe nem o que vai encontrar em 2014, entendeu? Precisamos encontrar em 2014 um país em que seja possível fazer algo para ele melhorar. E, sinceramente, a gente não pode ficar pelos cantos, constrangido em fazer o debate."

          Campos diz que a presidente Dilma conhece suas críticas. E mais: sabe também que seu partido, o PSB, o pressiona para se lançar candidato à presidência. "Quem disse a ela não foram terceiros, fui eu mesmo", afirma. "Ela sabe o que o meu partido pensa e sabe os sonhos que meu partido tem. Se esses sonhos vão ser realizados ou não, é outra coisa."

          Ele então faz uma ressalva: "Só não vamos nos meter em aventura. E não vamos ajudar a destruir o que nós construímos. Nós queremos é seguir adiante, não é desmanchar as coisas boas que foram feitas. Nós queremos fazer mais coisas boas". Continuidade, mas com liderança renovada.Campos finaliza a conversa da noite sem assumir que é candidato. "Não vamos entrar num debate eleitoral. Cada um tem seu relógio. Ninguém é obrigado a andar no fuso horário dos outros.
( Da Coluna de Mônica Bergamo, na Folha de São Paulo)


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sábado, 9 de março de 2013

O MANGALHEIRO - Os Jenipapeiríadas - Sexto Canto


                                                                      Desta importante obra de resgate da história do povo de Francisco Santos, o poema OS JENIPAPEIRÍADAS, publicamos o sexto canto: O MANGALHEIRO. 

                                                    I

                                         De lavrador mãos calosas
                                         do cabo da bruta enxada,
                                         esse quase analfabeto
                                         se transforma de virada
                                         em vendedor competente,
                                         que na conversa fiada,
                                         como quem não quer, querendo,
                                         seu produto vai vendendo!

                                                    II

                                         Tal qual o camaleão,
                                         que sempre muda de cor,
                                         o bom francisco-santense
                                         tem artes de vendedor,
                                         por isso é tido e havido
                                         como um tipo "vivedor";
                                         ganha todas as partidas,
                                         qual gato de sete vidas!
    
                                                    III

                                         Partia de Chico Santo
                                         nos antigos paus-de-arara,
                                         além do alho levando
                                         só a coragem e a cara,
                                         esperança e fé em Deus,
                                         virtudes hoje tão raras
                                         - alavanca eficiente
                                         para enfrentar o "batente"!

                                                    IV

                                         Depois a coisa mudou
                                         em face à legislação:
                                         - vai de ônibus, na frente;
                                         e o alho, de caminhão.
                                         Vende aqui, vende acolá,
                                         nas feiras deste mundão
                                         - Pará, Tocantins, Goiás,
                                         Maranhão e outros mais!

                                                    V

                                         Floriano, Teresina,
                                         Caxias, Andirobal,
                                         Santa Inês, Santa Luzia,
                                         Carolina, Bacabal,
                                         Marabá, Imperatriz,
                                         e tantas de porte igual;
                                         entre grandes e pequenas,
                                         citei algumas, apenas!

                                                    VI

                                         Porque nosso herói sem nome,
                                         destemido mangalheiro,
                                         vira e mexe, anda e revira
                                         por este Brasil inteiro,
                                         atrás de novos mercados
                                         por onde corre dinheiro,
                                         tranças de alho no ombro,
                                         vendendo com desassombro!
    
                                                    VII

                                         Já as viagens por terra
                                         eram em lombo de jumento,
                                         cem, duzentas ou mais léguas
                                         de pó, sede e sofrimento;
                                         perigos e mais perigos
                                         surgindo a todo momento,
                                         a morte rondando em cada
                                         esquina ou curva de estrada!
   
                                                    VIII

                                         Nessas viagens a pé
                                         o percurso era menor:
                                         - Parambu, Tauá, Mombaça,
                                         Iguatu, Crato ou Icó;
                                         no rumo do Piauí,
                                         Castelo e Campo Maior,
                                         Teresina e Livramento, [1]
                                         no mesmo prolongamento!

                                                    IX

                                         Era um tempo de sofrer
                                         no ganho da vida amarga,
                                         o sol queimando sem pena
                                         o corpo, que a pele larga,
                                         sofrendo tanto ou até mais
                                         que o próprio burro de carga;
                                         mas de tudo se esquecia,
                                         se boa venda fazia!
    
                                                     X

                                         Mas veio o tempo ruim
                                         e a situação mudou:
                                         - a terra ficou mais pobre
                                         e se desertificou,
                                         o rio também morreu,
                                         seu leito se assoreou.
                                         Mandioca, feijão e alho
                                         agora só dão trabalho!

                                                     XI

                                         Que fazer, se boa safra
                                         de feijão já não colhia?
                                         Se a farinha e a tapioca
                                         eram de pouca valia?
                                         Se o rio agora cabeças
                                         de alho, chochas, produzia?
                                         Era tomar providência
                                         pra resolver a pendência!
   
                                                    XII

                                         Se a sorte o deixa por baixo,
                                         de repente vira o jogo,
                                         com seu jogo de cintura
                                         reverte qualquer malogro,
                                         pois tem as artes e manhas
                                         do velho Cancão de Fogo.
                                         matreirice - onça do mato,
                                         rapidez - pulo do gato!

                                                   XIII

                                         Apertado pela fome
                                         e pela necessidade,
                                         demonstra mais uma vez
                                         toda versatilidade,
                                         buscando horizontes novos
                                         fora de sua cidade,
                                         em centros como Brasília,
                                         São Paulo e o Sul-maravilha!

                                                    XIV

                                         No início, só os jovens,
                                         destemidos e risonhos,
                                         partiam nessa aventura
                                         embalados pelos sonhos;
                                         depois, chefes de família,
                                         mudos, trêmulos, tristonhos:
                                         - esperança e aflição
                                         dentro da mesma emoção!

                                                    XV

                                         Sem estudo, sem preparo
                                         e sem qualificação,
                                         aceitavam o subemprego
                                         na pesada construção
                                         ou nas fábricas - sofrendo
                                         as peias da sujeição,
                                         presos à fatalidade,
                                         sem pão e sem liberdade!
   
                                                    XVI

                                         Antes, livres passarinhos
                                         a voar em céu de vento,
                                         vêem-se, então, atrelados
                                         a patrões sem sentimento,
                                         sujeitos a duras regras
                                         e irrisório rendimento,
                                         que não merece outro nome
                                         senão salário de fome!
    
                                                    XVII

                                         O migrante, infelizmente,
                                         vai inchar outras cidades,
                                         novos hábitos ganhar,
                                         e novas habilidades;
                                         em colônias e favelas
                                         criando comunidades,
                                         sem bases estruturais
                                         ou valores culturais!

                                                   XVIII

                                         Heróis! Alguns, tendo sorte,
                                         conseguem, com teimosia,
                                         montar o próprio negócio,
                                         se a ocasião propicia;
                                         atuando em vários ramos:
                                         - do alho à churrascaria,
                                         açougue, fruta, verdura
                                         - em tudo ele se aventura!

                                                    XIX

                                         Dou mostra dessa mistura
                                         em bazar de Araguaína:
                                         - pimenta, cominho e cravo,
                                         vela branca e parafina;
                                         sutiã, calcinha, renda,
                                         vestido de seda fina;
                                         facão e faca de ponta,
                                         e mais produtos sem conta!
   
                                                    XX

                                         Muitas vezes alguns deles,
                                         agindo com esperteza,
                                         conseguem fazer fortuna
                                         e até arrotar riqueza!
                                         Mas isso é pau de gangorra,
                                         que por sua natureza,
                                         ora em cima, ora no chão,
                                         sempre muda a posição!

                                                    XXI

                                         Porém nem todos quiseram
                                         empregos tão humilhantes,
                                         ou, com vis expedientes,
                                         agir como meliantes;
                                         por isso, com muita garra,
                                         viraram negociantes,
                                         com base no mesmo alho,
                                         que sempre lhes deu trabalho!

                                                   XXII

                                         Quando nosso alho perdeu
                                         qualidade e aceitação,
                                         o mangalheiro partiu
                                         atrás de outra solução,
                                         buscando o produto fora,
                                         de igual ou melhor padrão,
                                         mas conservando os mercados,
                                         duramente conquistados!

                                                   XXIII

                                         Francisco Santos e Picos,
                                         antes grandes produtores,
                                         aos poucos foram virando
                                         centros distribuidores
                                         do alho de outros lugares,
                                         vez que o rio, em estertores,
                                         o pouco que produzia
                                         o comprador não queria!
  
                                                    XXIV

                                         Ver-se assim FRANCISCO   SANTOS
                                         tornar-se MERO ENTREPOSTO,
                                         foi como se ver no RIO
                                         um REI CAÍDO E DEPOSTO,
                                         a dor presa em cada peito
                                         e o pranto a rolar no rosto...
                                         Porém, o que se fazer,
                                         se era preciso viver?!

                                                    XXV

                                         Tempo correu, a cidade
                                         mudou de modos e caras,
                                         adventícios vieram
                                         de terras bem mais avaras;
                                         novos costumes, virtudes (?)
                                         Nenhumas, ou quase raras;
                                         os Velhos Troncos... morrendo,
                                         e a tradição... se perdendo!

                                                   XXVI

                                         O nosso homem lá fora
                                         aprendeu e conquistou
                                         direito a não só comer
                                         "o pão que o diabo amassou,"
                                         mas, também, a usufruir
                                         do que a cultura criou...
                                         Por entre espinhos e escolhos,
                                         tirou a venda dos olhos!

                                                   XXVII

                                         Foi um longo aprendizado
                                         desde o círculo de giz
                                         até transpor essa cerca,
                                         com a garra do aprendiz,
                                         que busca um lugar ao sol,
                                         e um canto pra ser feliz...
                                         De mangalheiro a turista,
                                         foi uma grande conquista!!!
   
                                                   XXVIII

                                         No lugar do alheiro antigo,
                                         matuto, triste, vencido;
                                         surge um novo mangalheiro,
                                         vivaz, esperto e sabido,
                                         bastante civilizado,
                                         não tão lido, mas corrido;
                                         de Manaus ao Paraguai,
                                         em toda parte ele vai!
    
                                                    XXIX

                                         Por amor e por costume,
                                         feito animal de cocheira,
                                         sempre que pode, ele vem
                                         em viagem rotineira,
                                         rever parentes e amigos
                                         na festa da padroeira;
                                         muitos até com requintes,
                                         em reluzentes D-Vintes!

                                                    XXX

                                         Ora falei no presente,
                                         outras vezes no passado,
                                         dando ao leitor a idéia
                                         de verso mal acabado;
                                         foi mesmo proposital,
                                         pra mostrar meu retratado:
                                         se enverga, mas não se dobra,
                                         e dos golpes se RECOBRA!

[1] Livramento era o nome antigo de José de Freitas-PI (N. do A.)


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