domingo, 17 de fevereiro de 2013

OS JENIPAPEIRÍADAS - Quarto Canto: O Trabalho

                                                 

          Dando continuidade a saga jenipapeiriana de João Bosco da Silva, depois de publicados os primeiros cantos: Invocação, A Terra e As Gentes. Publicamos hoje o quarto canto, intitulado O Trabalho
          A minha sincera gratidão, pelas contribuições a este blog, mas, principalmente pela grandes contribuições que voce tem dado a Francisco Santos e ao seu povo. 
 
                               O    T R A B A L H O
                                                                I
                                      Com a chegada do inverno,
                      de dezembro pra janeiro,
                      começa a dura labuta
                      desse valente campeiro,
                      no plantio do feijão,
                      de rigoroso "banzeiro",
                      pois é cabra muito macho,
                      que jamais fica por baixo!
                                                               II
                      Pra poder ficar mais perto
                      da rocinha promissora,
                      sobe para sua serra,
                      e de dentro da lavoura
                      vai colhendo os belos frutos
                      da seara redentora
                      - poderoso chamariz,
                      nesta quadra tão feliz!
                                    III
                      Temporada de abundância
                      o inverno oferecia:
                      jerimum, feijão, maxixe,
                      milho verde e melancia,
                      leite, coalhada, manteiga
                      e o queijo que se comia           
                      em provas de gostosura            
                      bem na hora da feitura.
                                                               IV
                      Farta e diversa era a caça         
                      nesse tempo por aqui:             
                      - o peba, o bola, o tatu,           
                      a codorna e a juriti;             
                      o doce favo de mel                
                      do brabo e do munduri             
                      - coisas de um tempo tão doce,    
                      que, infelizmente, acabou-se!      
                                                               V
                      Lá pros começos de junho
                      safra do feijão "panhada",
                      também na beira do rio          
                      a do alho já plantada,       
                      começavam as desmanchas,
                      que alguns chamam farinhada,
                      de pesada trabalheira,           
                      mas divertida e brejeira!
                                                               VI
                      Roda, relho, banca, bola,         
                      tariscas, varão, mancais,         
                      gamelas, cochos e prensa,         
                      forno a lenha e muito mais:         
                      - peneira na madrugada
                      acobertando casais
                      nos toques do açodamento,         
                      que acabavam em casamento!        
                                                                VII
                      Com o rico dinheirinho           
                      de duas safras colhidas,                  
                      suas dívidas quitavam,
                      no comércio contraídas,           
                      e já nas festas de junho,
                      alegres e concorridas,            
                      contritos e aliviados,            
                      também pagavam os pecados!
                                    VIII
                      Era isto a farinhada,             
                      como a vejo em pensamento:        
                      - trabalho, suor e risos             
                      debaixo do aviamento,             
                      um cromo da vida simples,
                      festa de congraçamento.           
                      Coisas da vida fugaz,              
                      "que os anos não trazem mais!?"
                                     IX
                      Mané Bola, Zé Luiz,
                      Tica de Luiz Tenoro,
                      Tia Chica e Zefa de Braz,
                      e outros que não rememoro,
                      recebam minha homenagem,
                      pois aqui suspiro e choro...
                      - Desmanchas do Viroveu,
                      se acabaram que nem eu!
                                      X
                      Findo esse primeiro ciclo
                      de labuta e de trabalho,
                      desce pra beira do rio,
                      e como quem pega o malho,
                      de corpo e alma se lança
                      no dia-a-dia do alho,
                      para em setembro colhê-lo
                      e mundo afora ir vendê-lo.


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sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Valdi de Jesus - Um talento

           As pinturas artísticas de Valdi de Jesus tem despertado a atenção de muitos na nossa comunidade. Apesar de não ser expert em artes plásticas, acredito que Didi com um pouco mais de incentivo, certamente produzirá cada vez mais e melhor, pois talento ele tem, e muito. 
       Abaixo um dos seus trabalhos mais recentes.



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quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Eduardo Campos - Um ilustre desconhecido.




          Figura mais presente nas polêmicas da política nacional nas últimas semanas, desde que deu o sinal verde para aliados entrarem em campo, o governador de Pernambuco e presidente do PSB, Eduardo Campos, só aguarda agora que o ex-presidente Lula marque a data do encontro pedido para depois do carnaval — quando deverá comunicar-lhe, pessoalmente, que não está disponível para vice na chapa de Dilma Rousseff e que é irreversível o desejo do partido de lançá-lo presidente já em 2014.
                     
         Mesmo com encontros previstos com Lula e no palanque ao lado de Dilma dia 18, em Pernambuco, Eduardo Campos já tem uma extensa agenda para seu projeto pessoal de tornar-se conhecido nacionalmente. E a grande estreia de sua caravana pelos estados será em um ambicioso evento dia 9 de abril, quando pretende falar para cerca de 5 mil empresários em Porto Alegre.

          Nessa palestra, tratará dos problemas da política econômica do governo Dilma e apontará caminhos, tudo que o empresariado nacional quer ouvir. A nomes do Instituto Empresarial Michel Gralhas, vai falar da necessidade de investimentos para frear a queda da economia e fazer outras análises que inevitavelmente vão tocar nos pontos fracos da criticada política econômica de Dilma.

          — Mas ele vai fazer de uma forma cuidadosa, apontando caminhos, de forma propositiva, para evitar agudizar o conflito. Eduardo é um aliado que tem coragem de dizer com franqueza o que está errado quando algo não vai bem, apontando soluções, que é o que a oposição não faz — afirmou um aliado do governador.

          Sobre a disposição já anunciada de Campos de continuar na base do governo oficialmente em 2013, no comando de dois ministérios, a estratégia é não tocar no assunto. Mas, se houver uma cobrança de apoio em 2014 para que continuem nas mãos do PSB os ministérios da Integração Nacional, com Fernando Bezerra Coelho, e dos Portos, com Leônidas Cristino, o partido dirá à presidente Dilma que fique à vontade para fazer as substituições necessárias na reforma prevista para março.— Não tratamos deste assunto em nenhum momento. Nem internamente nem nas conversas com a presidenta — disse Eduardo Campos.
       
        Antes do evento em Porto Alegre — que será completado por uma grande festa partidária para comemorar o aniversário do líder Beto Albuquerque (PSB-RS) —, Eduardo Campos irá a dois estados do Nordeste e a outro do Centro-Oeste para receber homenagens e aproveitar para fazer eventos partidários. Dilma, que também está acelerando seu palanque, estará ao seu lado no dia 18 inaugurando uma adutora que levará água do Rio São Francisco para o sertão do Pajeú, “uma obra que dialoga com a seca”, diz esse aliado. Com Lula, o convite foi feito para uma conversa depois do carnaval, e só falta ser agendado o dia.

           Recentemente, o PSB e o próprio Campos mostraram irritação com notícias de que Lula estaria articulando tirar o PMDB de Michel Temer da chapa de Dilma para dar a vice ao governador, impedindo sua candidatura em 2014.— Ficou parecendo que Lula está fazendo o seguinte: vou dar uma balinha àquele menino para ele ficar calmo. Não é assim. Eduardo não tem o que ganhar não indo em 2014. É um caminho sem volta. Está tudo confluindo muito bem para esse homem. E ele vai atrás, não espera as coisas acontecerem, não — completa seu interlocutor próximo.

            Também começou a azedar a relação com o PSDB do senador Aécio Neves (MG), provável candidato tucano a disputar a Presidência da República em 2014. Nas eleições municipais, Aécio e Campos apareceram juntos na campanha e seus partidos fizeram dobradinha em algumas cidades importantes, como Campinas. As eleições para o comando da Câmara e do Senado provocaram alfinetadas dos dois lados.— Se esses tucanos mineiros atacassem o governo como atacam o PSB, certamente não estariam com tantos problemas como têm tido — disse um socialista da cúpula do PSB.

          Disposto a se posicionar de forma mais forte nas grandes polêmicas nacionais, principalmente para se diferenciar de seus prováveis adversários em 2014 — PT, PSDB e PMDB —, Eduardo Campos entrou na briga contra o pedido de impeachment do procurador-geral da República, Roberto Gurgel. A ideia de pedido de impedimento surgiu após Gurgel ter enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF) denúncia contra o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB).(O Globo)

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quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Colírio



Saara Raiane

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segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

OS JENIPAPEIRÍADAS

          O escritor João Bosco da Silva tem dado uma contribuição inestimável para a perpetuação da nossa história. Além dos inúmeros livros, poemas e contos publicados e na sua maioria relacionados com a nossa terra e o nosso povo. Também vem contribuindo substancialmente com este modesto blog. Ele nos enviou a parte inicial de um longo poema dedicado ao povo de Francisco Santos, intitulado OS JENIPAPEIRÍADAS, à feição de Os Lusíadas, de Camões.
         Em outras oportunidades discutimos as possibilidades de fazermos postagens mais curtas, mais enxutas. Ele concordou plenamente com a nossa idéia, e neste momento publicamos os cantos  INVOCAÇÃO, A TERRA e AS GENTES. Futuramente, faremos as publicações dos próximos capítulos.


                                 I N V O C A Ç Ã O
                                I
                   POTESTADES do universo,          
                   musas todas de Parnasso,         
                   insuflai-me inspiração,
                   arte, engenho e mui compasso,    
                   pra exaltar a Terra-Berço,        
                   sua gente, seu espaço,           
                   erguendo um canto altaneiro     
                   à saga do mangalheiro!
                                II
                   Se é pretensão desmedida
                   Tais figuras invocar,
                   Há Gênios iguais na Terra
                   Na arte de poetar:
                   Homero, Camões ou Dante         
                   Méritos têm a fartar.
                   E deles, certeza tenho,
                   Receberei  todo empenho.
                                 III
                   Mas se apelar for preciso
                   Às fontes nacionais,
                   Estão aí o Drumond,
                   E o Vinícius de Morais,
                   Do mesmo diapasão
                   Dos internacionais:
                   Por isso com eles posso
                   Bem me servir do que é nosso!
                                  IV
                   E se mais e mais descer,
                   Hei de encontrar farta mina
                   Em regato remansoso
                   De água pura e cristalina.
                   Talvez seja até melhor
                   Buscar fonte nordestina:
                   Falo com orgulho e fé
                   Do portento do Assaré.
                                  V
                   Patativa! Patativa!
                   Cedei-me por um instante
                   Vossa inspiração sublime
                   De poeta fulgurante
                   Para que eu possa dizer
                   Do meu povo itinerante
                   Qual disseste na dorida
                   Saga da Triste Partida!

 

                   A   T E R R A
                               I
                   Estado do Piauí,
                   microrregião de Picos,           
                   fora dos grandes cerrados,       
                   mas de solos bons e ricos        
                   e florescente mercado,           
                   feito por homens profícuos       
                   - Fica aí meu Chico Santo,
                   terrinha que eu amo tanto!
                                II

                    Apesar de pequenino,
                   um til  no nosso a b c,            
                   meu torrão é valoroso,           
                   leitores, me podem crer:         
                   sua gente honesta e boa,         
                   de pertinácia e saber,
                   dá, com muita competência,       
                   lição de sobrevivência!          
                                III                    
                   Premido entre chapadões,
                   no vale do Riachão,              
                   propícios para o cultivo         
                   da mandioca e do feijão,         
                   do caju que, ultimamente,            
                   vem causando sensação;           
                   o lavrador bem o fale            
                   se há terra que se lhe iguale!
                               

                   A S    G E N T E S
                                 I
                   Reza antiga tradição,
                   que há quase 200 anos,
                   por essas bandas passando
                   grupo de poucos baianos,
                   acharam a terra tão boa
                   que logo fizeram planos
                   de, com garra e valentia,
                   ocupá-la em sesmaria!
                                II
                   Diz a mesma tradição,
                   mais certa que duvidosa,
                   que de Antônio e de Izabel,
                   de Policarpo e de Rosa,
                   primos-irmãos entre si,
                   veio prole numerosa,
                   e destas boas sementes
                   somos todos descendentes!
                                III
                   Filhos, pois, de aventureiros,
                   valentes desbravadores,
                   lhes herdamos a coragem,
                   a ousadia e os pendores
                   das artes mercantilistas,
                   que nos fazem vencedores;
                   por este grande legado,
                   o nosso "muito obrigado!" 
                                 IV
                   Não temos Jeca Tatu,
                   o caipira de Lobato,           
                   nosso tipo é o de Euclides,      
                   tão fiel quanto um retrato,      
                   frágil só na aparência,  
                   porém um forte, de fato;
                   de tanto sol recebido,
                   já tem o couro curtido!
                                  V
                   Esse dito logo acima
                   conduz a definições
                   quanto ao espírito de luta
                   dos nossos fortes varões,
                   que, enfrentando os empecilhos,
                   vão rebentando os grilhões
                   da pobreza e da miséria
                   aviltante e deletéria!
                                 VI
                   Doma a terra agreste e seca
                   com teimosia e ação,
                   fazendo brotar milagres
                   nas messes da produção;
                   dá sempre a volta por cima,
                   pois de Deus tem a benção
                   e a fé como facho e norte,
                   que de fraco o torna forte!




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O Brasil não conhece o Brasil.

                   
          Do Oiapoque ao Chuí, o território brasileiro tem cerca de 8,5 milhões de km². Oficialmente, segundo o IBGE, essa é a superfície do País. No papel, porém, o território brasileiro é maior. Quando se faz a soma da área de todos os imóveis rurais cadastrados no Instituto Nacional de Colonização e Reforma (Incra), o resultado final chega a 9,1 milhões de km². É uma diferença notável: a área que sobra equivale a duas vezes o território do Estado de São Paulo. Ou, para quem se sente melhor com grandezas imperialistas, à soma dos territórios da Alemanha e Inglaterra.

          O esticamento do território nacional foi verificado pelo Sindicato Nacional dos Peritos Federais Agrários, após obter no Incra, por meio da Lei de Acesso à Informação, dados detalhados do Serviço Nacional de Cadastro Rural - que tem a tarefa de recolher informações de todos os imóveis rurais registrados no País. O mapeamento reúne informações de 2011. As de 2012 ainda não foram compiladas pelo Incra.

          Os peritos concluíram que o Brasil, uma das maiores potências agrícolas do mundo, está longe de ter um cadastro de terras confiável. O problema mais aparente é o que eles chamam de sobrecadastro - quando a soma das áreas declaradas pelos proprietários nos cartórios supera a superfície real do município. Nessa categoria, o caso que mais chama a atenção é o de Ladário, no Mato Grosso do Sul.

          Dez andares. De acordo com o IBGE, a superfície daquele município alcança 34.250 hectares. Mas a soma da área dos 139 imóveis cadastrados é mais do que dez vezes maior: chega a 397.999 hectares. Dito de outra forma, para que o território cadastrado coubesse no real seria necessário erguer dez andares de terras sobre Ladário.

          O município sul-mato-grossense chama a atenção por estar no topo da lista, mas o problema não ocorre só lá, nem é exclusividade do Brasil profundo. Palmas e Cuiabá, capitais de dois Estados que se destacam como importantes produtores agrícolas - Tocantins e Mato Grosso -, enfrentam o mesmo problema.

          Pelas informações obtidas no Incra, dos 5.565 municípios brasileiros, 1.354 tem sobrecadastramento, o que representa cerca de um em cada quatro. A razão mais comum para o descompasso são fraudes nos registros e até erros na transcrição dos números. Mas não é só. Os peritos apontam desatualização dos registros e, sobretudo, as condições precárias em que são feitos.

          “Quase tudo gira em torno da declaração que o proprietário faz no cartório sobre o tamanho de sua terra”, diz Fernando Faccio, perito federal do Incra em Florianópolis (SC) e porta-voz do sindicato. “Os órgãos estaduais de terras não possuem um bom mapeamento das áreas; os cartórios não têm obrigação de garantir que a terra registrada não está em cima de outra; e o Poder Público também não vai lá verificar.”

          Para Faccio, o fato de o Brasil não conhecer sua malha fundiária é inaceitável, principalmente quando se considera que as tecnologias já existentes, como o georreferenciamento, permitem resolver o problema de maneira eficiente. “Só posso imaginar que os empecilhos no caminho da modernidade são essencialmente políticos.”

          Terra a menos. Sobra de terra no cadastro não é o único drama. Na região Norte do País verifica-se o subcadastramento, que ocorre quando a superfície registrada é menor do que a real. A causa principal é a existência de grandes áreas de terras devolutas, controladas pelo Estado e frequentemente ocupadas de maneira irregular.

          O sindicato estima que na região amazônica só 4% do território está cadastrado. “Os órgãos de governo não tem controle de suas terras, o que acaba favorecendo os conflitos agrários na região”, afirma Faccio.O sindicato do qual ele faz parte defende a ideia de que o Incra passe a se dedicar exclusivamente ao controle fundiário, transferindo para outros organismos a questão da reforma agrária. O órgão passaria a se chamar Instituto de Terras.

          “Sem conhecer sua malha fundiária, o Brasil não consegue definir políticas públicas de maneira consistente, não consegue evitar a insegurança jurídica. No momento não se sabe nem quanta terra se encontra nas mãos de estrangeiros”, observa o perito.

          O assunto atrai a atenção da presidente Dilma Rousseff desde quando era chefe da Casa Civil. Confrontada com questões relacionadas a desmatamento, conflitos agrários, políticas sociais na zona rural, a então ministra constatou que existem cadastros paralelos no Incra, na Receita Federal e nos ministérios do Meio Ambiente e da Agricultura - e que nenhum deles é confiável.

          Na Presidência, ela tem cobrado a consolidação de um cadastro único e confiável. A ministra Gleise Hoffmann, que substituiu Dilma na Casa Civil, é uma das pessoas encarregadas de analisar a questão. ( O Estadão) 



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