segunda-feira, 18 de março de 2013

Que boa gestora, hein, seu Lula?

                                                                    Por Ricardo Noblat

    Era uma vez a presidente da República que contava com seis anos de parceria para oferecer a seus aliados. Foi quando com medo de perder a vez para seu antecessor decidiu antecipar a próxima campanha eleitoral.
    Um aliado mais esperto aproveitou a ocasião e trocou o status de aliado dela pelo de concorrente.
    Sabe o que aconteceu?
    O poder de barganha da presidente diminuiu. E aumentou o dos aliados.
    Decodificando: a presidente da República, Dilma Rousseff.
    Outro dia, por sinal, ela confidenciou a um ministro: o empregado que cuida das emas do Palácio do Planalto deixou que uma bicasse Nego, o cão labrador que o ex-ministro José Dirceu lhe deu de presente.
    Dilma não pensou duas vezes: convocou o empregado à sua presença e deu-lhe a maior bronca. Pensou em transferir as emas para a Granja do Torto. Desistiu.
    O antecessor que poderia atropelar a presidente: Lula.
Dilma não é santa da devoção do PT. Lula é o padroeiro.

Foto: Gustavo Miranda / O Globo

    A maior fatia do PT e os demais partidos que sustentam o governo de Dilma gostariam de ter Lula de volta à presidência. O próprio Lula gostaria de voltar.
    Preparava-se para sair em caravana pelo país em defesa do PT, atingido pelo resultado do julgamento do mensalão, e dele mesmo - aquele que de nada sabia.
    Sequer sabia que a sua fiel secretária Rosemary de Noronha estimulava tenebrosas transações dentro do governo. E que o levara a empregar quem seria preso depois pela Polícia Federal por suspeita de corrupção.
    Pobre Lula!
    Pois bem: para evitar o risco de ele se animar com a perspectiva da volta, Dilma procurou-o para uma conversa definitiva. Quer ser candidato? - perguntou-lhe. Lula negou. Ela insistiu. Ele negou.
    Dilma disse que o apoiaria com entusiasmo caso ele sonhasse com um novo mandato. Lula negou pela terceira vez.
    Dilma então pediu-lhe para que aproveitasse a festa de aniversário do PT e lançasse seu nome à reeleição. Lula lançou - sem entusiasmo convincente, admita-se.
    Compreensível. Nem mesmo ele ainda é capaz de prever o futuro. E se por um motivo qualquer fosse obrigado a sair candidato no lugar de Dilma?
    O aliado mais esperto que virou concorrente de Dilma: Eduardo Campos, governador de Pernambuco.
Sob o lema "2013 é para governar, deixemos para fazer campanha em 2014", ele viaja o país fazendo campanha, e governa quando lhe sobra tempo.
    É candidato para ganhar ou perder. Contra Lula ou Dilma.
"Não gosto de perder. Mas serei candidato até mesmo para marcar posição se esse for o desejo do meu partido", ouvi dele há poucos dias.
    Ao resolver patrocinar a candidatura de Dilma à sua sucessão, Lula sacou uma frase que passou a repetir como se fosse um mantra: "Ela é melhor gestora do que eu."
Presidente bom gestor é uma mistura de presidente bom executivo e de presidente bom político.
    Lula cercou-se de executivos razoáveis. Na política deu um show. Dilma é uma executiva à moda antiga, que ouve mal. E uma política sem gosto pela política.
Em 2011, travestiu-se de faxineira ética e demitiu ministros autores de malfeitos. Ninguém perguntou por que os nomeara.
    No início do ano seguinte, jogou fora a fantasia de faxineira quando um dos poucos ministros a merecer seu afeto foi acusado de ter recebido por consultorias que não deu.
    Desmontou a Comissão de Ética da presidência que a obrigou a despachar o ministro do Trabalho, Carlos Lupi.
No último sábado, Lupi desfilou feliz pelos amplos salões do Palácio do Planalto. Fora trocado por um neto de Brizola, um deputado fraquinho, seu desafeto.
    Com medo de perder o PDT para Eduardo Campos, Dilma substituiu Brizola por um serviçal aliado de Lupi. Outro partido que perdeu ministro no rastro da faxina ética deverá ganhar em breve um ministério.
    Onde já se viu partido recusar cargo em governo?
    O PSD de Gilberto Kassab, ex-prefeito de São Paulo, recusou na semana passada.
    O PT ocupa as cadeiras numeradas do governo. O PMDB, a arquibancada. Os demais partidos se apertam na geral e espicham a cabeça para enxergar os lances do jogo.
    O PSD não tem pressa. Preferiu valorizar seu passe junto a Dilma e a Eduardo.
    Lula loteou seu governo no segundo mandato. Dilma, no primeiro para assegurar o segundo. Boa aluna.
    O primeiro ano do governo Dilma foi pior do que o último ano do governo Lula. O segundo ano do governo dela foi pior do que o primeiro. O terceiro em curso, a se ver.
    A inflação alta disseminou-se. A Petrobrás nunca perdeu tanto valor (quem foi mesmo a presidente do Conselho de Administração da empresa durante o governo Lula? Advinha.) O Brasil estagnou no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano.
    São 39 ministros e nenhum se destaca por ter emplacado algum projeto notável. Mas como emplacar um projeto ou mesmo uma vaga ideia em um governo cuja presidente trata os assessores aos gritos, centraliza o que pode e o que não deveria, e pede para ler com antecedência discursos que só mais tarde ouvirá?
    Que bela gestora, hein, seu Lula?

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